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O empoderamento da cultura surda através das aulas de língua portuguesa
Última alteração: 07-10-2019
Resumo
O trabalho em classe com a Língua Portuguesa oferece a oportunidade da abordagem cultural através de recursos facilmente adequados à disciplina. Além disso, a sala de aula é um ambiente propício para a construção de conhecimento, sem descartar nem o que possuímos sobre nós mesmos. Um contexto entre surdos e ouvintes proporciona uma troca que pode ser extremamente enriquecedora para os participantes, visto que se trata do contato entre duas culturas. Por trabalhar com muitos elementos (como textos, imagens, vídeos, etc), as classes de Língua Portuguesa tornam esse ambiente ainda mais fértil para a reflexão e empoderamento de culturas através das escolhas de materiais pelo professor da disciplina. No caso da Cultura Surda, isso se torna essencial, já que, por dividirem o espaço físico com ouvintes, muitas pessoas não a consideram algo distinto. Também é preciso ressaltar que a existência dela proporciona ao Povo Surdo a afirmação de sua identidade. Mesmo que os surdos dividam o espaço com ouvintes, eles possuem sua própria língua, costumes e comportamentos – o que os torna multiculturais. Ainda que existam coisas em comum, há uma diferença significativa e que deve ser levada em conta. A multiculturalidade também acontece em salas de Língua Portuguesa, onde os ouvintes possuem-na como língua materna, e os surdos, como segunda língua. Isso traz diversas questões pedagógicas e linguísticas para a sala de aula, visto que em um mesmo ambiente se ensina L1 (português) e L2 (também português), sendo exigidas abordagens diferentes para o melhor desenvolvimento de cada modalidade. Entre o leque de dificuldades apresentadas, devemos também considerar, conforme Salles (2001), que, independentemente do espaço em que ocorra o ensino de língua portuguesa para surdos, este deve ser concretizado a partir da Libras. Na docência de português para surdos, a seleção de imagens, textos e vídeos pode auxiliar no empoderamento e afirmação da Cultura Surda ao escolher, por exemplo, um artista surdo para trabalhar com interpretação de textos não-verbais. Por que não trabalhar com imagens de Rolando Sigüenza (pintor mexicano surdo) ao invés de um pintor ouvinte? Por que não partir da L1 dos Surdos, escolhendo algum livro da Literatura Surda? A partir disso, conclui-se que esses são questionamentos que devem ser feitos por professores de Língua Portuguesa ao selecionar os materiais de aula para seus estudantes, pensando não só no ensino da língua, mas também no trabalho com o empoderamento. Existem diversas adaptações de elementos da cultura ouvinte adaptados para a Cultura Surda, por exemplo, a história da Cinderela (que na cultura ouvinte perde o seu sapatinho de cristal), que perde a sua luva. Essas representações que são comuns nas duas culturas também se tornam uma excelente experiência para um trabalho em sala de aula. A sugestão de produções de adaptações e apresentação dessas diferenças são muito promissoras para o ambiente escolar, gerando resultados significativos para o intercâmbio cultural. O contato entre os estudantes também pode proporcionar quebras de paradigmas como, por exemplo, o fato de o surdo ou sua cultura serem inferiores: a utilização dos materiais certos pode mostrar que não há inferioridade ou superioridade, apenas diferenças. Além disso, é preciso pensar que muitos estudantes provém de famílias ouvintes, sendo a escola seu único contato com a Cultura Surda. Pequenas mudanças nas escolhas auxiliam na afirmação da Cultura Surda e elas devem começar pela sala de aula. Em uma turma bilíngue o mesmo deve e pode ser feito, dando espaço aos surdos da classe para mostrarem mais sobre a sua cultura e tornando a escola um ambiente de troca. Se abordarmos questões históricas, o Povo Surdo sempre lidou com ideias erradas sobre sua diferença, que muitas vezes foi considerada loucura, preconceito, piedade e como algo que devesse ser curado – já que, para a época, os surdos estariam condenados à uma subcultura. A Cultura Surda merece obter seu espaço nos ambientes estudantis para contemplar seus alunos e para apresentar aos ouvintes os seus elementos, tornando-se assim conhecida, admirada e propagada.
Palavras-chave
Surdez; Empoderamento; Cultura Surda; Língua Portuguesa.
Referências
SALLES, Heloísa Maria Moreira Lima. et al. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília: MEC, SEESP, 2004. v. 1, p. 47.
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