Última alteração: 04-10-2019
Resumo
O projeto "A cosmologia das práticas curativas: um estudo sobre pessoa, cultura e natureza" procura recuperar saberes tradicionais e populares através das memórias sobre os usos das plantas curativas na região de Porto Alegre, RS. A partir do mesmo pretendemos reconstruir memórias a partir das relações tecidas entre as pessoas, a cultura e a natureza, visando à valorização de saberes que têm sido desvalorizados pela autoridade da ciência e da indústria médicas. A história da utilização das plantas medicinais começa a ser registrada, com os relatos de viajantes que chegavam às Américas no contexto da conquista e exploração do continente. Entre as populações nativas, porém, os conhecimentos não recebiam registro escrito, sua forma de transmissão ocorria através da figura do Pajé e de geração para geração. Com a chegada dos portugueses e com a diáspora Africana, se foi agregando novos saberes, que resultam na medicina popular e tradicional que conhecemos hoje. Além disso, há também uma utilização para meios religiosos, principalmente em religiões de matrizes africanas. Usos como, por exemplo, para o benzimento, a decoração de altares, a purificação do corpo e do espírito. Dentro das religiões afro-brasileiras cada planta tem representação de uma divindade. Com a industrialização e o consequente aumento das áreas urbanas, houve uma diminuição desses saberes. O domínio da ciência como verdade absoluta paulatinamente fez com que essas sabedorias populares e tradicionais fossem consideradas charlatanismo. Como foi apresentado anteriormente, queremos fazer um resgate histórico e a valorização dessas experiências tradicionais. Primeiramente, realizamos uma pesquisa bibliográfica referente ao tema para termos uma base teórica. Após, realizamos entrevistas com pessoas que ainda guardam esses conhecimentos. Nossos questionamentos principais foram: como as pessoas aprendem esse conhecimento? quais os tipos de ervas utilizadas? como são usadas? qual a importância das ervas segundo seus pontos de vista? Também visitamos agricultores da zona rural de Porto Alegre, onde pudemos aprender mais sobre esses saberes e conhecer outras formas não convencionais de utilizar essas plantas, ligadas à Agroecologia. Visitamos ainda o quilombo dos Alpes onde pudemos saber mais sobre os conhecimentos das ervas com a mestra Janja. De forma geral, nossa pesquisa se baseou em métodos qualitativos. Como resultados parciais podemos dizer que os saberes das plantas, tanto relacionados às práticas medicinais como religiosas, levam junto consigo toda uma história, uma cultura dos nossos antepassados, faz parte de uma tradição familiar, carrega a relação de cuidado com o outro, e com a natureza. A perda dessas sabedorias reaviva as práticas individualistas, leva à perda da empatia e ao descuido com a biodiversidade.