Última alteração: 01-10-2024
Resumo
As bibliotecas, verdadeiros centros de preservação do conhecimento e da cultura, tiveram seus acervos e equipamentos comprometidos nos anos de 2023 e 2024, por conta de duas situações de calamidade pública causadas pelas enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul. Em 2023, foram 80 cidades atingidas, principalmente no Vale do Taquari, e, em 2024, 470 municípios gaúchos sofreram algum tipo de dano. Este trabalho, intitulado “Renovação e esperança: o desafio das bibliotecas gaúchas após as enchentes” apresenta um levantamento da quantidade de bibliotecas públicas, escolares e comunitárias que tiveram perdas de acervos de livros, com o intuito de demonstrar o impacto das fortes chuvas no acesso ao livro e leitura para a comunidade gaúcha. Tal recorte faz parte do projeto de extensão “Histórias para adiar o fim do mundo”, do IFRS Campus Viamão, que tem atuado na reconstrução de bibliotecas e no auxílio a artistas do segmento da literatura, promovendo atividades culturais e doação de conjuntos de livros de literatura. Os dados deste levantamento, que privilegiam o impacto das inundações de maio de 2024, foram coletados através dos sites dos órgãos públicos (prefeituras e secretarias de educação) e entrevistas online com bibliotecários responsáveis pelos setores nas secretarias de estado de educação e cultura do Rio Grande do Sul. Nas bibliotecas públicas, as enchentes afetaram 41 espaços, que totalizam a necessidade de abastecimento de 100.000 exemplares de livros, enquanto que, nas escolas estaduais, foram 138 bibliotecas, totalizando 245.090 novos livros para a recomposição. As prefeituras de cidades da região metropolitana também contabilizam perdas de acervo em suas escolas da rede municipal. A rede Beabá, de bibliotecas comunitárias, teve duas de suas bibliotecas atingidas, e também obtivemos a informação de mais duas bibliotecas comunitárias, a partir de relatos nas redes sociais de pessoas que atuam nesses espaços. Este diagnóstico de dados revela que o desafio para a reconstrução desses espaços é enorme, e demanda não apenas questões de ordem material, mas também a superação de questões emocionais para os profissionais que dedicam seu trabalho ao incentivo à leitura nas escolas e na comunidade. Contudo, mesmo em face dessa tragédia, há sinais de esperança, por meio dos esforços e da união da comunidade para ajudar na recuperação dessas bibliotecas. Nesse sentido, o projeto de extensão tem atuado para que novas histórias possam ser narradas, vividas e sonhadas, como sugere o líder indígena Ailton Krenak, ao afirmar que se pudermos contar mais uma história, estaremos adiando o fim do mundo.