Última alteração: 28-09-2023
Resumo
Resignação, acomodação e protestos oprimidos foram algumas das manifestações observadas diante da escalada de endurecimento dos regimes civil-militares do Cone Sul. Centenas de cidadãos perderam sua liberdade e direitos civis, sendo presos, torturados, mortos ou exilados devido à ideologia de extinguir o “inimigo interno”. Porém, não somente os “subversivos” foram atingidos, como também seus filhos. Tais crianças poderiam sofrer com as mesmas violências, além de serem subtraídas de seus pais. Portanto, a relevância desta pesquisa consiste em trazer à tona as marcas psicológicas e memórias de algumas das vítimas que sofreram abusos no início de suas vidas e que permaneceram ao longo do tempo, por meio das películas analisadas. O objetivo geral do projeto é compreender de que forma a infância é retratada em filmes os quais remetem ao período da ditadura civil-militar nos países do Cone Sul, por meio da ótica dos protagonistas, sendo eles meninos de oito a onze anos. A metodologia empregada consistiu em realizar uma ampla revisão bibliográfica tanto do contexto em que as películas se passam, quanto sobre elas. Ademais, após a escolha dos referenciais teóricos, foram selecionadas três obras cinematográficas para serem analisadas, sendo "Infância Clandestina" (2012), dirigida por Benjamín Avila; Kamchatka (2002), dirigida por Marcelo Pineyro; e "O ano em que meus pais saíram de férias" (2006), dirigida por Cao Hamburger, optadas para servirem como objeto de estudo - vale ressaltar que as duas primeiras são argentinas e a última brasileira. As cenas dos longas-metragens foram fichadas e analisadas tendo como base as fontes bibliográficas. Os resultados parciais indicam que, nos filmes, é feito um contraste entre uma figura de inocência e pureza (as crianças) e o aparato de violência e repressão (a ditadura como um todo) e, mesmo elas terem sido fortemente afetadas por tal sistema, tendo suas infâncias prejudicadas e até mesmo perdidas, há elementos lúdicos que remetem o resgaste delas, como o jogo de tabuleiro em "Kamchatka", o jogo de botões e o futebol em "O ano em que meus pais saíram de férias" e as histórias em quadrinhos em momentos mais violentos em "Infância Clandestina", a fim de transparecer o ponto de vista infantil, que deixa lacunas de interpretação para o espectador.