Portal de Eventos do IFRS, 9º SALÃO DE PESQUISA, EXTENSÃO E ENSINO DO IFRS

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Extração e quantificação dos principais compostos bioativos da casca do araçá-vermelho (Psidium cattleianum Sabine)
Monalise Marcante Meregalli, Geciane Toniazzo Backes, Marcelo Mignoni

Última alteração: 17-12-2024

Resumo


Introdução: O Brasil, reconhecido por sua vasta biodiversidade, abriga inúmeras espécies vegetais com grande potencial, ainda pouco explorado. Entre elas, destaca-se a família Myrtaceae, que inclui o araçá-vermelho (Psidium cattleyanum Sabine), uma fruta notável por sua alta concentração de compostos bioativos, como polifenóis, vitaminas, minerais e antocianinas (Pereira et al., 2018) . Esses compostos possuem propriedades antioxidantes, auxiliando na prevenção de doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, além de apresentar atividades bactericidas e fungistáticas (Dalla Nora et al., 2014; Rosário et al., 2020) . Apesar desse promissor perfil nutricional e terapêutico, o cultivo de várias espécies dessa família permanece limitado economicamente (Possa, 2016), o que ressalta a importância de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos usos e aplicações desses frutos tanto na indústria alimentícia quanto na farmacêutica. Partindo deste princípio, o objetivo deste trabalho foi caracterizar os compostos bioativos e a atividade antioxidante do extrato antociânico da casca do araçá-vermelho.Material e métodos: A extração de antocianinas seguiu a metodologia descrita por Meregalli et al. (2020). Foram utilizados 10 g de casca de araçá-vermelho, previamente triturados e 100 mL de etanol a 90%, acidificado. O pH da mistura foi ajustado para 1,5, e a extração ocorreu sob escuro a 40 ± 1°C por 120 minutos. Após esse período, as amostras foram centrifugadas a 8000 rpm por 15 minutos sob refrigeração. O sobrenadante foi recolhido, e o precipitado lavado duas vezes com 5 mL de solvente, seguido de novas centrifugações sob as mesmas condições. O extrato obtido foi filtrado a vácuo e armazenado em frasco âmbar a -20°C. Os compostos bioativos quantificados foram: antocianinas totais, fenólicos totais, flavonoides e carotenoides. A quantificação das antocianinas totais foi realizada com base na metodologia de Fetter et al. (2010). A absorbância foi medida a 535 nm utilizando um espectrofotômetro, com o solvente sendo empregado como branco, e o quantitativo obtido por interpolação de uma curva-padrão de cianidina-3-glicosídeo, principal composto presente nas antocianinas do araçá-vermelho. O teor de fenólicos totais foi determinado utilizando a metodologia de Singleton et al. (1999), com modificações. Uma alíquota de 0,5 mL do extrato foi misturada com 2,5 mL de reagente de Folin-Ciocalteu a 0,2 N. Após agitação orbital e repouso de 5 minutos no escuro, foram adicionados 2 mL de NaCO₃ a 5% e 50 µL de LiCl a 10%, incubando por 2 horas a 25°C. A absorbância foi medida a 760 nm, e os resultados expressos como Eq.mg de ácido gálico/100g de casca. O teor de flavonoides totais dos extratos casca de araçá-vermelho foi determinado de acordo metodologia descrita por Zhishen et al. (1999), onde 0,25 mL do extrato foi adicionado a 1,25 mL de água deionizada e 75 µL da solução de NaNO2 5%, seguido de agitação orbital e repouso por 6 min a temperatura de 25ºC. Adicionou-se 150 µL de da solução de AlCl3 10%, agitou-se novamente e a mesma permaneceu em repouso por mais 5 min nas mesmas condições anteriores. Por fim, adicionou-se 0,5 mL da solução de NaOH 1 mol.L-1 e 2,5 mL de água destilada em agitação e a medida foi feita em espectrofotômetro a 510 nm. Os resultados foram expressos em Eq.mg de catequina/100g de casca de araçá-vermelho. O teor de carotenoides totais foi estimado através da leitura da absorbância dos extratos em um espectrofotômetro ajustado para 448 nm. O coeficiente de absorbância utilizado, correspondente ao β-caroteno em etanol, foi de E1% 1cm = 2550, conforme Silva (2004). A concentração de carotenoides foi expressa em termos de µg/mL. A atividade antioxidante do extrato antociânico foi avaliada através da capacidade de captação do radical livre DPPH*, que possui máxima absorção entre 515-520 nm. A metodologia seguiu o protocolo de Roesler et al. (2007) com adaptações. Foram utilizadas concentrações variadas do extrato (0,1 a 1 mL/mL), e a reação ocorreu durante 30 minutos, no escuro. Um controle ("branco") foi preparado com H₂O acidificada. A absorbância foi lida em 515 nm, e a atividade antioxidante foi expressa em porcentagem de inibição do DPPH*. O valor de IC50, que indica a concentração necessária para inibir 50% dos radicais livres, foi calculado por regressão linear. Resultados e Discussão: O teor de antocianinas totais encontrado na casca do araçá-vermelho foi de 158,67 mg de cianidina-3-glicosídeo por 100 g de casca, um valor considerado elevado e superior aos 116,81 mg obtidos por Meregalli et al. (2020) com a mesma metodologia de extração. Essa variação pode ser atribuída a fatores como o ano de cultivo dos frutos. Outro estudo, de Pereira (2018), encontrou 128,65 mg de AT em uma mistura de casca e polpa, sugerindo que a casca concentra mais antocianinas. Além disso, o teor de compostos fenólicos totais foi de 545,83 mg de eq. ácido gálico por 100 g de casca, corroborando estudos anteriores que indicam o araçá-vermelho como uma fonte rica em compostos fenólicos. O teor de carotenoides (5,47 µg de β-caroteno/mL de extrato) e flavonoides (432,24 mg de catequina por 100 g de casca) também foi considerado promissor. A atividade antioxidante, medida pela inibição do radical livre DPPH*, atingiu 91,84%, resultado semelhante ao de Rodrigues et al. (2022), que reportou 92,44%. Isso indica uma elevada capacidade antioxidante dos compostos presentes na casca, com potencial para proteger o organismo humano dos danos causados por radicais livres. O valor de IC50 de 0,412 mg/mL sugere uma excelente capacidade de neutralização de radicais livres, em linha com os achados de Vinholes (2017) e Moraes et al. (2023), que apresentaram IC50 de 0,49 e 1,06 mg/mL, respectivamente. Considerações finais: Os dados obtidos neste estudo confirmam que a casca do araçá-vermelho é uma rica fonte de compostos bioativos, como antocianinas, fenólicos, flavonoides e carotenoides, com alta atividade antioxidante, oferecendo um potencial significativo tanto para a proteção do fruto quanto para benefícios à saúde humana. Agradecimentos: ao IFRS e à CAPES. Referências: DALLA NORA, C. Caracterização, atividade antioxidante “in vivo” e efeito do processamento na estabilidade de compostos bioativos do araçá-vermelho e guabiju. 2012. 91 p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – UFRGS, Porto Alegre, 2012. MEREGALLI, M. M.; PUTON, B. M. S.; CAMERA, F. D. M.; AMARAL, A. U.; ZENI, J.; CANSIAN, R. L.; BACKES, G. T. 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Palavras-chave


araçá-vermelho, compostos bioativos, atividade antioxidante.

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