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Os registros paroquiais são uma fonte primordial para compreender as estruturas sociais em sociedades pré-censitárias, especialmente no que tange à composição familiar e às relações de parentesco. Contudo, é evidente a diferença observada na qualidade e na quantidade de informações presentes nos registros de matrimônio de filhos legítimos e naturais. Nos casamentos de filhos legítimos, é comum encontrar detalhes como o nome dos pais, a condição conjugal, a profissão, a origem e, em certos casos, títulos honoríficos. Por outro lado, os registros de filhos ilegítimos costumam ser mais concisos, muitas vezes mencionando apenas o nome da mãe. Essa disparidade reflete não só o estigma social associado à ilegitimidade, mas também a posição socioeconômica das famílias. Este estudo tem como objetivo investigar as possíveis causas dessa diferença no tratamento dos registros e suas implicações, explorando como as distinções entre filhos legítimos e ilegítimos revelam as dinâmicas sociais, econômicas e familiares em Porto Alegre, na segunda metade do século XIX. A análise é baseada nos registros de casamento de pessoas livres da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, em Porto Alegre, entre 1844 e 1868. A partir da análise quantitativa e qualitativa de 1.181 matrimônios registrados neste período, constatou-se que 108 noivas e 73 noivos eram filhos de pais não casados. Esses números fornecem um ponto de partida para compreender como a condição de nascimento influenciava os registros dos nubentes e sua inserção na sociedade. Além disso, busca-se avaliar as condições socioeconômicas das mães solteiras e como essas influenciavam a qualidade dos registros. A dos assentos matrimoniais permite comparar o número de filhos naturais e legítimos, as variações nas informações registradas e traçar um perfil comparativo entre os dois grupos em termos de mobilidade social, participação na comunidade e como a ilegitimidade influenciava as estratégias familiares de ascensão social. Os dados obtidos também contribuirão para o projeto "Luso-brasileiros, comércio, sociabilidade e processo de urbanização na Praça mercantil de Porto Alegre", ajudando a compreender melhor como as formas de reprodução social afetavam a organização familiar no processo de urbanização da cidade. A análise dos assentos matrimoniais permite entender como o status de filhos legítimos ou naturais influenciava as trajetórias de vida e as relações familiares, revelando as complexas interações entre estigma social, parentesco e posição econômica em Porto Alegre no século XIX

Rio Grande do Sul, Fontes eclesiásticas, Filhos legítimos, Filhos naturais