Última alteração: 28-12-2024
Resumo
Este trabalho analisa a obra da banda inglesa Radiohead, mapeando signos do capitaloceno dispersos nos nove álbuns de estúdio lançados entre 1993 e 2016. O objetivo da pesquisa é identificar e discutir como esses signos se manifestam nas sonoridades e temáticas das canções, propondo uma interpretação crítica do capitalismo tardio e das crises ambientais e sociais do Antropoceno. Para isso, utiliza-se uma metodologia de análise semiótica e cartográfica, aliada à noção de dispersão em Foucault e a uma abordagem rizomática inspirada em Rolnik e Guattari. A análise parte dos primeiros álbuns, Pablo Honey (1993) e The Bends (1995), cujas letras tratam de desilusões amorosas e ansiedades pessoais. A partir de OK Computer (1997), a crítica ao capitalismo torna-se central, com temas de alienação e apatia política. Com Kid A (2000), a obra assume um tom distópico, refletido tanto nas letras quanto nas inovações sonoras, como compassos irregulares e arranjos que rompem com o tonalismo ocidental. Nos álbuns subsequentes, como Hail to the Thief (2003) e In Rainbows (2007), a crítica ao capitalismo persiste, enquanto as reflexões sobre mudança climática e crise ambiental ganham força. Em 2007, a banda realizou uma auditoria de pegada de carbono de suas turnês e adotou medidas para reduzir seu impacto ambiental, intensificando também as reflexões sobre o Antropoceno. Este estudo propõe que as sonoridades da banda, além das letras, são centrais para a construção de uma narrativa crítica do capitaloceno. Canções como How to Disappear Completely e Everything in its Right Place exemplificam essa estética, com arranjos que evocam apatia e catástrofe iminente. As semioses sonoras e verbais da obra da banda entrelaçam-se em um rizoma de críticas ao capitalismo tardio, antecipando discussões contemporâneas sobre o impacto humano no planeta. Em conclusão, os álbuns do Radiohead oferecem uma reflexão complexa sobre as crises do capitalismo e do pensamento na era do Antropoceno, abordando temas como alienação social, desigualdade econômica e a fragilidade humana diante de crises ambientais e políticas. A pesquisa reconhece a obra da banda como uma antecipação crítica das transformações culturais e ecológicas do mundo contemporâneo.