Essa pesquisa analisa o acervo de escritos femininos produzido na segunda metade do século XX, com a finalidade de compreender e problematizar as práticas de escrita e leitura efetuadas pela mulher de modo a recompor uma existência “inscrita em papéis” e que se encontra dispersa e, ao mesmo tempo, tem-se indícios de que foi muito profícua. As (im)possibilidades do protagonismo feminino e, em que medida alcançou visibilidade, constatam com as contribuições intelectuais e culturais da mulher através das relações com o acervo bibliográfico e tecem uma rede de intersecções entre a sociedade, a cultura, a escrita e a materialidade dos objetos de leitura. Atribuir visibilidade e compreensão a uma vida de escritora e leitora, não acadêmica, tensiona os campos da história cultural (Burke, 2021) com a história das mulheres (Perrot, 1989; Priore 1998) e com a história da cultura escrita (Chartier, 2004) na busca por evidências escassas e dispersas, mas que revelam discursos da vida pública, social e política de uma época. A pesquisa encontra-se em estágio inicial de identificação, arrolamento, classificação e seleção de materiais para análise.  Baseia-se nos princípios do paradigma indiciário (Ginzburg, 1989) ) que busca indícios e pistas infinitesimais sobre um tema que recorrentemente sofre apagamento e dispersão social. O corpus empírico se baseia na obra e vida de Maria Eunice Müller Kautzmann (1924-2014): professora, escritora, ativista cultural, participante de academias literárias. O encontro com um universo feminino de escritos transgride o tempo/espaço de uma História da escrita e da leitura fortemente protagonizada por homens, revelando a visibilidade da mulher escritora, leitora e produtora de idéias próprias.