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Trabalhadoras do mundo, uni-vos! Condições de trabalho e (in)sustentabilidade social em cadeias de suprimentos calçadistas
Última alteração: 28-12-2024
Resumo
Nas cadeias de suprimento, as práticas de sustentabilidade abrangem dimensões econômicas, ambientais e sociais. Embora existam iniciativas consolidadas focadas na sustentabilidade social, muitos desafios ainda persistem entre empresas fornecedoras e terceirizadas. Casos como o escândalo do trabalho escravo em vinícolas e a proibição de uso de banheiros em fábricas de calçados no Sul do Brasil evidenciam que as operações nas cadeias de suprimento têm um impacto direto nas condições de trabalho, relacionadas às questões sociais. Nessa pesquisa, argumenta-se que as condições de trabalho são influenciadas pelos contratos das cadeias, que impactam negativamente na sustentabilidade social da cadeia de suprimentos – ou a ‘insustentabilidade social’. Considerando que a empresa focal tem poder e influência na cadeia de suprimentos, espera-se que essa empresa seja responsabilizada pelos impactos na cadeia incluindo as condições de trabalho de mulheres em empresas terceirizadas e fornecedoras. Este estudo tem por objetivo analisar a influência dos contratos da cadeia de suprimentos nas condições de trabalho de trabalhadoras de empresas terceirizadas e fornecedoras do setor do calçado. Justifica-se o estudo na indústria calçadista em virtude da sua contribuição para o desenvolvimento social e econômico do país. O Brasil posiciona-se como um dos maiores produtores de calçados do mundo. Particularmente, o estado do Rio Grande do Sul está entre os três maiores produtores de calçados em quantidade de pares. A pesquisa utiliza uma abordagem qualitativa por meio de coleta de dados a partir de documentos e entrevistas com pessoas que trabalham ou já trabalharam em fábricas fornecedoras e empresas terceirizadas (atelier) de cadeias de suprimentos calçadistas localizadas no Sul do Brasil, particularmente no Vale do Paranhana/RS e Vale do Rio dos Sinos/RS, que abrigam polos calçadistas. A coleta de dados primários está em andamento, alcançando um total de quatro entrevistas até o momento. Resultados parciais indicam que as fábricas de calçados são uma oportunidade de primeiro emprego para a maioria das pessoas, porque não exigem experiência anterior e pela quantidade de vagas disponíveis. Tais vagas, muitas vezes, são informais. Por esses motivos, a remuneração é considerada baixa. O trabalho é repetitivo e, de acordo com relatos das entrevistas, não é devidamente ensinado pelos gestores das empresas. Foram relatadas situações de assédio, humilhação, abuso de poder e autoridade, preconceito, pressão para produção etc., evidenciando as péssimas condições de trabalho nas cadeias de suprimentos calçadistas. Para além de condição de trabalho decente, é preciso incluir na discussão as condições de trabalho justas. A pesquisa fornece evidências empíricas para as empresas (re)pensarem seus contratos e negócios com suas fornecedoras e terceirizadas, pois justas condições de trabalho devem fazer parte das práticas de sustentabilidade nas cadeias de suprimentos.
Palavras-chave
Sustentabilidade em cadeias de suprimento; Condições de trabalho; Trabalhadoras do calçado
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