Última alteração: 28-12-2024
Resumo
Este trabalho se debruça sobre a pesquisa intitulada “Carolina Maria de Jesus e jovens estudantes do século XXI: o diário como porta de acesso às subjetividades” e pretende apresentar os resultados parciais acerca da investigação que trata de descobrir em que medida a leitura de Quarto de Despejo: o diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, pode dialogar e inspirar a escrita de mulheres, jovens estudantes da atualidade. O interesse por este tema deu-se pelo fato de que ao conhecer a autora e sua obra houve uma mudança significativa em minha subjetividade e me questionei acerca do meu papel enquanto estudante, mulher e mãe. Assim, ao tomar conhecimento de que as estudantes do ensino médio do IFRS, Campus Feliz estavam lendo a obra, surgiu o interesse em saber como as meninas das turmas receberam o texto de Carolina e como dialogavam com ele. A abordagem da pesquisa deu-se através do método qualitativo através de uma investigação bibliográfica acerca da autora e do que a crítica diz sobre sua produção e, posteriormente, um estudo de caso, quando analisamos os escritos das estudantes a partir da leitura do Quarto de despejo: o diário de uma favelada. Assim, além de discutir a obra da autora em seus aspectos de literariedade e de construção do diário enquanto gênero textual, analisamos os escritos das estudantes dando ênfase às possíveis relações e/ou imbricações com o texto de Carolina, a partir da categorização dos dados coletados, à luz da análise de conteúdo de Laurence Bardin(2011): 1. Aproximações e distanciamentos nas escolhas linguísticas. 2. Abordagem dos temas: família, educação, leitura, condição feminina e questões políticas e sociais. Como aporte teórico para as discussões dos dados, nos valemos de autores/as da área da leitura e da escrita. Os resultados parciais obtidos revelam uma estreita relação na forma de escrita que segue os padrões do gênero diário, onde autor e narrador se fundem em um diálogo interior que não precisa seguir normas e regras e, portanto, possibilita o acesso às subjetividades. Além disso, nota-se que os temas que perturbam Carolina Maria de Jesus tocam as estudantes participantes da pesquisa na medida em que empaticamente se colocam como responsáveis pela luta em busca da mudança social que tarda a chegar. Por fim, as leituras do que escreveram as diaristas jovens do século XXI em diálogo com a escritora negra, catadora e mãe solo do século XIX revelam que o caráter humanizador da literatura se faz presente em cada relato e que cabe aos educadores mantê-lo vivo através de práticas como estas para que as Carolinas de todos os tempos tenham voz e direito à palavra que reverbere justiça social, tão desejada pela autora.