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Terrorismo de Estado e relações de gênero: um olhar sobre as personagens femininas nos quadrinhos Fantasmas de Pinochet e A Herança do Coronel
Amanda Gobbo, Letícia Schneider Ferreira

Última alteração: 27-12-2024

Resumo


As ditaduras civil-militares implementadas nos países do Cone Sul durante a Guerra Fria utilizaram amplamente o terror estatal, impondo uma verdadeira pedagogia do medo contra suas populações. Esses regimes foram responsáveis por graves violações dos direitos humanos e perseguição política de seus opositores. As mulheres participaram ativamente, principalmente na militância política, porém muitas vezes suas histórias são apagadas dos registros oficiais. Sendo assim, estudar a atuação feminina é de extrema relevância, buscando preservar a memória coletiva e combater a reincidência de tais eventos. O objetivo geral da presente pesquisa é, portanto, analisar de que formas as mulheres são representadas nas histórias em quadrinhos selecionadas sobre as ditaduras chilena e argentina. O uso das histórias em quadrinhos como fonte de análise permite uma compreensão mais acessível e envolvente desses acontecimentos sensíveis. A metodologia empregada na presente pesquisa consistiu em uma revisão bibliográfica de artigos científicos que abordam temas como terrorismo de estado, relações de gênero e sexualidade, história da arte, usos e aplicações das HQs, e métodos de análise desse tipo de material. Após isso, as obras A Herança do Coronel e Os Fantasmas de Pinochet foram selecionadas para investigação. A partir das leituras realizadas, foi possível identificar semelhanças e divergências na representação feminina nas obras. Ambas apresentam duas esferas ao representar o feminino: há a representação de mulheres tradicionais e conservadoras, que cumprem com os padrões sociais frequentemente impostos a esse grupo, como a ligação com o lar, a maternidade e a religião. As que se encaixam nesses estereótipos gozaram de privilégios sociais no contexto ditatorial e, por vezes, foram figuras de poder e influência no jogo político. Por outro lado, mulheres ligadas à militância e resistência foram duramente reprimidas, e através de personagens como Anália - uma militante considerada subversiva pelo regime - os horrores desse período são habilmente explorados. O leque de violências narradas pelas HQs inclui várias cenas de violação e humilhação sexual, que constituíam um tipo específico de tortura, majoritariamente direcionada às mulheres. Portanto, foi possível perceber que as obras selecionadas apresentam um cuidado na mobilização de dados, seja ao representar figuras reais ou personagens fictícias que evocam experiências do espectro real. A partir de pesquisas como essa, a memória e a história de muitas lutas contra as ditaduras podem ser lembradas, combatendo o esquecimento desse período sombrio e complexo da história desses países, cujas marcas ainda estão presentes na sociedade atual.

Palavras-chave


Gênero; Histórias em quadrinhos; Terrorismo de Estado.

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