Última alteração: 22-12-2023
Resumo
A constante disseminação de informações falsas e sua utilização como base no processo de compreensão e interpretação do mundo tem sua base no que designamos por arquitetura de consciência fake. A pergunta norteadora é: por que as pessoas acreditam em fake news? Hipotetizamos que isso se dá por um processo intenso de falsificação dos modos de acesso ao mundo pela consciência individual e coletiva. Fundamentamos essa ideia nas reflexões de autores da filosofia, sociologia e psicologia que argumentam que as dimensões antropológicas do desejo e da consciência não são inatas, nem acabadas, mas constituídas a partir do processo de humanização, que se dá pela convivência com os demais. Quando este aprendizado ocorre a partir de ações que não passam por reflexão, pode levar à incorporação de ideais planificadores e desumanizantes, principalmente quando estão envoltos em uma repetição de ideias e ações que não correspondem aos marcos civilizatórios instituídos na Carta dos Direitos Humanos. Hannah Arendt, uma das bases dessa pesquisa, afirma que o horizonte mais próximo da falsificação da consciência é a “banalização do mal”, que corresponde à irreflexão sobre o fazer humano, à desumanização em todas as suas dimensões e, até mesmo, à morte dos que são marginalizados. O objetivo descritivo e explicativo desta pesquisa é compreender os fatores estéticos, políticos, éticos e epistêmicos que levam as pessoas a acreditarem nas fake news e utilizá-las como forma de ver o mundo, como consciência do mundo. A metodologia utilizada considera uma pesquisa bibliográfica de natureza básica, qualitativa, com análise hermenêutica, enfatizando a leitura, debate e fichamento em torno de textos de estudiosos da Filosofia e Sociologia sobre a constituição de consciências. Os autores centrais são: Hannah Arendt, Theodor Adorno e Walter Benjamin. Como resultados parciais, temos que a consciência falsificada consiste na relação entre a construção de sentidos e a efetivação da ação, utilizando como base informações que são pseudo-epistêmicas, mas que tem aparência de ciência; que são pseudo-republicanas e pseudo-democráticas, mas que procuram apresentar-se como salvadoras, com um viés quase teológico; que são imorais, mas que defendem os “bons costumes” de um passado que negava o direito às mulheres de participar da sociedade, que tinha leis para manter a escravidão; e, por fim, que aparentam um ideal de gosto e de beleza, mas que apenas usam da estética para maquiar as distorções. Conclui-se que é indispensável buscar a ligação dos elementos epistêmicos, éticos, políticos e estéticos, a fim de compreender a arquitetura da constituição da consciência das novas gerações, compreender as ações e as formas de pensar o mundo com a perspectiva do menor grau de ódio e de violência possível.