Última alteração: 22-12-2023
Resumo
As pesquisas científicas, recentemente, têm saído do âmbito exclusivo de Instituições de Ensino Superior e passado a fazer parte de algumas escolas de ensino regular, principalmente nos Anos Finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. A Iniciação Científica (IC) mostra-se um recurso pedagógico que tem ganhado espaço em educandários de todo o Brasil, visto que permite aos alunos reflexões positivas, principalmente no que diz respeito ao seu olhar para a ciência e para importantes questões da atualidade. A partir de sua realização, os alunos elaboram um novo olhar para as problemáticas da sociedade, bem como percebem ferramentas e recursos possíveis de resolvê-las. Desta forma, a IC permite que os estudantes, ainda na educação básica, tenham a oportunidade de identificar temas e problemas de pesquisa, elaborar hipóteses e verificar, através do estabelecimento de etapas metodológicas, como comprová-las para, então, contribuir para o meio em que vivem. Os alunos vivenciam a experiência do estudo científico ainda na adolescência, o que contribui para sua visão crítica de mundo.
Este estudo, portanto, tem como objetivo verificar o impacto gerado pela aplicação da IC enquanto atividade do cronograma escolar e avaliativo de uma escola privada de Bento Gonçalves que atende alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio através do olhar dos próprios estudantes. Para isso, além de se verificar de que maneira a IC atua na formação acadêmica dos alunos, torna-se fundamental perceber as mudanças que esta proposta gera em sua vida pessoal e na sociedade em que vivem. A pesquisa justifica-se por, até onde foi possível saber, não haver um estudo que verifique a inserção da IC na educação básica de uma escola da cidade em questão, bem como por se tratar de um estudo que promove o debate acerca da aplicação e dos benefícios permitidos pela IC nesta etapa educacional a partir do relato dos próprios estudantes.
Quanto à metodologia, trata-se de um estudo de caso de caráter qualitativo e exploratório. O estudo de caso é caracterizado por Gil (2021) como um estudo exaustivo de poucos casos, de modo que se permita seu detalhamento, sendo um de seus propósitos manter o caráter unitário do objeto pesquisado. Para o autor (2021) as pesquisas exploratórias são aquelas voltadas a tornar o problema do estudo mais explícito e que fundamente a criação de hipóteses. Para este estudo, teve-se como primeiro passo uma revisão bibliográfica acerca dos pressupostos e propósitos que regem o funcionamento da IC e dos benefícios que ela provoca nos estudantes e comunidade escolar. Para isso, contou-se, principalmente, com os postulados de Demo (2006). Em seguida, foi elaborado um questionário com perguntas abertas e fechadas, que, por sua vez, foi aplicado a cinco alunos do Ensino Médio da escola em questão. Os educandos realizaram pesquisas de IC em 2023 em dois grupos distintos e seguiram as diretrizes propostas pela escola. A partir dos resultados obtidos, realizou-se uma análise de dados em que as respostas foram comparadas à revisão bibliográfica com o intuito de se estabelecer a visão que os alunos têm da sua experiência com a aplicabilidade da metodologia científica. Com isso, pode-se verificar a recepção desta forma de trabalho pelos alunos, além de se estabelecerem novas diretrizes para as próximas atividades de IC promovidas pelo educandário, de modo que o momento se torne mais proveitoso para a comunidade escolar.
Para Demo (2006), um dos pilares da educação básica é o desenvolvimento da emancipação nos alunos. O termo “emancipação”, para o autor, se refere ao “processo histórico de conquista e exercício da qualidade de ator consciente e produtivo. Trata-se da formação do sujeito capaz de se definir e de ocupar espaço próprio, recusando ser reduzido a objeto” (DEMO, 2006, p. 78). O pesquisador identifica na educação e na pesquisa a fonte do processo emancipatório que permite melhores condições ao aluno e à sociedade em que ele vive. Além disso, destaca-se que “é essencial impregnar a convivência com os alunos com estratégias de pesquisa, através das quais são motivados a toda hora a pelo menos digerir o que escutam através de exercícios pessoais” (DEMO, 2006, p. 87), ou seja, a IC é um processo contínuo que permite o aluno a sua função ativa no meio social. Assim, efetiva-se um hábito de caráter prático que se relaciona à atitude do próprio aluno:
Como exercitar para convencer-se de que funciona; como experimentar para poder aplicar; como utilizar na condição de instrumento de pesquisa, para questionar e dialogar com a realidade. Mais que despertar a curiosidade, é fundamental despertar o ator político, capaz de criar soluções (DEMO, 2006, p. 88)
No que diz respeito à análise dos dados, os resultados iniciais mostram que os alunos conhecem a relevância dessas atividades para a sociedade e para seu crescimento pessoal na medida em que, ao fazerem pesquisas significativas, percebem novos caminhos para suas escolhas profissionais e acadêmicas. Nos relatos dos educandos, notou-se o desenvolvimento da criatividade e do poder investigativo, já que se depararam com conhecimentos de áreas que eram desconhecidas por eles. Quanto às experiências vivenciadas, destacaram que as apresentações dos resultados em feiras internas e externas à escola, além da realização de pesquisa de campo, foram importantes para sua formação, dado que é quando eles têm a oportunidade de comunicar seus aprendizados ou ver a aplicação dos conhecimentos relacionados ao seu tema. Por outro lado, nota-se a necessidade de aprimorar o projeto através de se estabelecer uma conexão entre os temas que são relevantes para a sociedade e os temas que atraiam a atenção dos alunos. Dessa forma, a IC potencializa um aprendizado significativo na proporção que desmistifica a ideia de que essa atividade é apenas uma forma de cumprir uma demanda e uma avaliação escolar.
Palavras-chave: Iniciação Científica; Educação Básica; pesquisa na escola.
Referências:
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2021.
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 12 ed. São Paulo: Cortez, 2006.