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“Você é a última pessoa da Terra durante um inverno nuclear” Afetos e fabulações de futuro nos comentários de playlists de dark ambient no YouTube
Ana Christina Cruz Schittler, Marcelo Bergamin Conter Bergamin Conter

Última alteração: 22-12-2023

Resumo


“Você é a última pessoa da Terra durante um inverno nuclear”

Afetos e fabulações de futuro nos comentários de playlists de dark ambient no YouTube



Ana Christina Cruz Schittler²

Marcelo Bergamin Conter³

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, IFRS



Subgênero musical da música ambiente composto por atmosferas densas, sombrias, drones de frequência, ruídos, sensações profundas e introspectivas, de interpretações subjetivas: assim podemos definir sucintamente o dark ambient, objeto de estudo da pesquisa Semioses Afetivas da Música Ambiente Contemporânea, que busca compreender novos hábitos de consumo musical no YouTube. Neste trabalho, interessa-nos em particular analisar esses hábitos, já que alguns títulos das obras apresentam uma descrição de como devem ser ouvidas. Em contrapartida ao que se sugere a ambient music, uma música para reflexão, ócio criativo, as playlists de dark ambient parecem ser arranjadas para servir de pano de fundo para estudar ou trabalhar. Playlists analisadas contendo títulos como "você é a última pessoa na Terra durante um inverno nuclear", "perdido em um espaço vazio" ou "2 horas de dark ambient lo-fi pós apocalíptico", sugerem ao ouvinte uma fabulação de futuros e presentes distópicos. Essas fabulações nos remetem ao conceito de SF – science fiction proposto por Donna Haraway, que abarca a narração de estórias e o relato de fatos, a modelagem de padrões de mundos e tempos (im)(com)possíveis,  que questionam as fronteiras entre realidade e ficção, relações humanos e não-humanos e as construções que moldam essas relações com a máquina. Somando-se a isso, exploramos os seguintes conceitos: música ambiente, capitalismo tardio, antropoceno, afetos e escutas expandidas Ademais, por meio da etnografia digital, desenvolvemos uma visão crítica de problematizações e desafios perante a temática que permeia o dark ambient e as normas possivelmente estabelecidas no modo de escuta, observando comentários que os usuários postam na página das playlists em que fabulações de cenários distópicos são expressos. Sendo assim, é por meio dessas escutas, da análise dos vídeos, das sonoridades e, principalmente, dos comentários de usuários da plataforma YouTube, que analisamos a interpretação dos signos verbais, visuais e sonoros dessas obras e seus desdobramentos. Outrossim, buscamos compreender as semioses que envolvem as singularidades que emergem dessas obras, que parte de uma escuta individualizada e captar as significações produzidas de modo coletivo nos comentários das playlists de dark ambient. Por fim,  ressaltamos a correlação intrínseca entre os conceitos explorados nas escutas das playlists e nos relatos presentes nos comentários analisados. Logo, o dark ambient se revela uma poderosa forma de comunicação e expressão cultural, já que captura e comunica preocupações da sociedade moderna, desencadeando reflexões sobre o contexto atual e estimulando debates de infinitas hipóteses de futuros possíveis.


Palavras-chave: música ambiente, semiótica, fabulações



Palavras-chave


música ambiente, semiótica, fabulações

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