A sustentabilidade em cadeias de suprimento visa a integração das dimensões econômica, ambiental e social nas operações da cadeia. Apesar do reconhecimento de quais são as práticas relacionadas à dimensão social da sustentabilidade, diferentes casos em empresas fornecedoras e terceirizadas mostram que as questões sociais são um desafio em cadeias de suprimento. Por exemplo, em 2021, uma trabalhadora de uma fábrica terceirizada de calçados foi impedida de usar o banheiro durante o horário de trabalho porque o ritmo de produção não poderia ser interrompido. O que define tal ritmo é o contrato firmado entre duas empresas, definindo a quantidade de calçados produzidos por dia. Dado que a empresa focal tem poder e influência na cadeia, essa empresa deve ser responsabilizada pelos impactos na cadeia de suprimentos, incluindo nas condições de trabalho de trabalhadoras de empresas fornecedoras e terceirizadas. Esta pesquisa possui por objetivo analisar a influência dos contratos das cadeias de suprimentos nas condições de trabalho de trabalhadoras de empresas terceirizadas e fornecedoras. Para tanto, utilizou-se uma abordagem qualitativa por meio de entrevistas com trabalhadoras de empresas fornecedoras e terceirizadas de cadeias de suprimentos calçadistas localizadas no Sul do Brasil. Justifica-se o estudo na indústria calçadista em virtude da sua contribuição para o desenvolvimento social e econômico de tais regiões. Foram entrevistadas nove mulheres que trabalham ou já trabalharam em empresas calçadistas. As entrevistas foram realizadas de forma online, duraram aproximadamente 1 hora e foram gravadas e posteriormente transcritas. A análise dos dados envolveu a análise de narrativas, que se referem a experiências e sentimentos pessoais das trabalhadoras. Resultados indicam três categorias que mostram a influência dos contratos das cadeias de suprimentos nas condições de trabalho: contexto econômico e social da região; perfil de trabalhadoras; e ambiente de trabalho. As fábricas de calçados foram uma oportunidade de primeiro emprego para as entrevistadas. Elas não tinham experiência profissional anterior e havia poucas opções de trabalho nas cidades onde moravam. Assim, eram jovens trabalhadoras num ambiente de trabalho extremamente complexo. Por sua vez, existem relatos de más condições de trabalho nas narrativas das trabalhadoras, que parecem representar o real ambiente de trabalho nessas fábricas de calçados. Os relatos de assédio e humilhação, abuso de poder e autoridade, preconceito e pressão para produção foram vivenciados e observados pelas próprias trabalhadoras no ambiente de trabalho. Elas narram que eram vistas simplesmente como engrenagem de uma máquina. Tais categorias reforçam as condições de trabalho narradas pelas trabalhadoras, que parece ser um efeito dos contratos da cadeia de suprimentos. Portanto, a pesquisa fornece insights para as empresas (re)pensarem seus contratos sociais, pois a melhoria das condições de trabalho deve fazer parte das práticas de sustentabilidade nas cadeias de suprimentos.