Última alteração: 21-11-2022
Resumo
A presente pesquisa desenvolve uma cartografia da produção de curtas-metragens latino-americanos, em um recorte temporal de 2013 até 2020, sob a perspectiva decolonial. A perspectiva de análise decolonial permite investigar a forma como estas produções cinematográficas representam, apagam ou dão a ver os Outros da colonialidade, que, no caso da América Latina, são os povos indígenas, os negros, os trabalhadores rurais e urbanos, os povos periféricos, os ribeirinhos, as dissidências sexuais, entre outros povos e sujeitos espoliados historicamente pelo colonialismo e, subsequentemente, pelo capitalismo, até hoje alocados em posições liminares ou marginais, como produto dessas relações de poder. Para isso, a pesquisa utilizará a cartografia como método para localizar e categorizar as temáticas e contextos dos curtas-metragens latino-americanos que incorporam o estudo. Neste sentido, nos interessa a discussão acerca da perspectiva decolonial no audiovisual latino-americano, que tem como marco o manifesto “Hacia un tercer cine”(1969), dos cineastas argentinos Fernando Solanas e Octavio Getino. Esta investigação busca desvelar os mecanismos coloniais hegemônicos presentes até hoje nas artes, colocando em questão a forma como as produções mapeadas lidam com a herança colonial a partir do pensamento de Aníbal Quijano, Walter Mignolo e Aída Marques. Assim, foi realizada uma seleção de produções audiovisuais latino-americanas e, a partir da leitura de textos, debates e reflexões coletivas, a organização de uma catalogação das obras. Os filmes foram analisados de forma a localizar categorias de análise de raiz decolonial, cartografando-os conforme marcadores da diferença, que buscaram contemplar especificidades e nuances da construção de subjetividades de grupos marginalizados historicamente pelo colonialismo. Os filmes também foram analisados de acordo com a protagonização dos Outros da decolonialidade: os povos indígenas, os trabalhadores rurais e urbanos, os povos periféricos e os dissidentes sexuais. Não por acaso, durante muito tempo (e ainda hoje), esses sujeitos estiveram presentes no audiovisual muito mais como objetos do olhar do que como portadores do olhar e/ou produtores de discursos, em processos narrativos que corroboram uma hierarquia, de herança colonial, entre sujeitos, saberes e culturas, na qual as elites brancas burguesas letradas e acadêmicas mantêm o poder discursivo, simbólico, cultural e econômico (QUIJANO, 2005). Estes dados foram organizados em um mapa dinâmico (WebSIG) com o georreferenciamento dos curtas-metragens investigados, utilizando o serviço “MyMaps”, do Google, para desenvolver e disponibilizar na Web o mapa contendo os registros das produções divididas por países e repertórios, bem como por entrecruzamentos e análises. Portanto, o projeto analisa as relações de colonialidade presentes no fazer e no dizer dos curtas-metragens analisados e visibiliza as iniciativas cinematográficas potencialmente descolonizadoras de sujeitos e territórios.