Este trabalho integra o projeto de pesquisa "Semioses afetivas da música ambiente contemporânea" e foi desenvolvido pela linha de pesquisa SemSono (Semiótica e Sonoridades).  Pretende-se observar a releitura do gênero musical "lofi hip hop" por artistas brasileiros no que vem sendo denominado "lofi hip hop Brasil". Nestas releituras mantém-se elementos comuns ao lofi hip hop internacional, como, por exemplo, andamento lento, batidas eletrônicas suaves derivadas do hip hop dos anos 1990 e elementos sonoros processados por plugins para reduzir o espectro de frequência. O que muda em particular nas peças brasileiras é o emprego de temas e samplers de bossa nova, MBP e soul no lugar dos tradicionais "standards" de jazz, comuns no lofi hip hop internacional. Em ambos os gêneros, um dos principais meios de divulgação das peças no estilo "lofi" são as playlists do YouTube: longas coletâneas em vídeo que possuem de uma até dez horas ou mais, como no caso de playlists reproduzidas ao vivo. Notamos que essas curadorias possuem um papel importante na difusão do gênero, em especial por uma particularidade que nos interessa observar: os títulos sugestivos que classificam as músicas como ideais para estudo, trabalho, relaxamento ou indução ao sono. Utilizadas como música ambiente, estas obras possuem andamento, encadeamentos harmônicos e textura elaborados de maneira a servir de plano de fundo para nossas atividades contemporâneas. É comum, inclusive, encontrar nos comentários das playlists do YouTube usuários trocando experiências sobre suas escutas durante tarefas cotidianas, além de reflexões sobre identidade, saúde mental e memórias saudosas de um tempo idealizado. Acreditamos que, ao aplicar texturas sonoras de baixa definição em canções antigas, promove-se ao ouvinte jovem, uma nostalgia por uma época que não viveu e a possibilidade de fruir clássicos do cânone popular brasileiro com uma roupagem contemporânea. Além disso, nota-se que há disputas entre os ouvintes acerca de um ideal do que é o Brasil e do que é ser brasileiro. Tendo em vista as especificidades deste tipo de produção musical e a manifestação dos modos de escuta contemporâneos (através dos comentários nas plataformas dos vídeos no Youtube), nos interessa analisar o compósito sônico formado por timbres, efeitos, instrumentos musicais, plugins de áudio e samples sonoros que compõem o lofi hip hop Brasil. Intuímos que há uma dimensão política por trás do modo como elas são produzidas, mixadas e consumidas. Mapear estes agenciamentos permite reconhecer signos e sentidos políticos, culturais, tecnológicos e de linguagem que contribuem para a formalização de sonoridades singulares que expandem as fronteiras semióticas da música no Brasil.