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A revolução silenciosa do mercado de Cannabis no Brasil e seus agentes
Adam Collin Silva Da Costa, Miguel Perez, Diego Jardim, Getúlio Reale

Última alteração: 21-11-2022

Resumo


“Um novo mercado para um novo mundo; Além de ser um novo investimento, a Cannabis traz soluções disruptivas para as ciências da saúde.” Esta frase pode parecer de algum ativista ou entusiasta da Cannabis (maconha), mas é de uma propaganda do banco BTG Pactual. Ela evidencia a aposta que agentes de mercado estão fazendo, junto com cientistas e ativistas, na Cannabis, especialmente pelo uso medicinal. A criminalização da Cannabis causa a morte, encarceramento em massa e supressão de direitos de milhares de pessoas todos os anos no Brasil; além disso, analistas preveem que o mercado regulado da planta pode gerar até R$45 bilhões ao ano em vendas e, destes, 20 bilhões em impostos. O objetivo deste estudo é rastrear e categorizar agentes da revolução em curso e fazer reflexões sobre as consequências desse processo. Analisamos reportagens, sites, relatórios de consultorias e a pesquisa do campo com o suporte da Teoria-Ator-Rede para a busca e interpretação dos dados. Foram identificadas diferentes categorias de agentes a partir da análise dos textos. Como resultados parciais identificamos cerca de noventa agentes organizacionais ou empresariais até o momento. O mercado tem como motor central os consumidores, especialmente por meio do uso medicinal, assim como os fornecedores de produtos de Cannabis. Entre os principais estão as associações de pacientes, empresas internacionais exportadoras, empresas nacionais que produzem o medicamento, empreendedores canábicos que produzem remédio e pacientes auto cultivadores (estes dois últimos sem autorização da justiça). Há também uma extensa rede de distribuição dos produtos em farmácias, sites na internet e representantes comerciais. A Justiça e a ANVISA demandam prescrição médica para conceder autorizações de plantio ou importação para pacientes e diversas clínicas expressamente divulgadas como "clínicas canábicas” vem surgindo com caráter de ‘negócio’. Há agentes que não lidam diretamente com a planta e seus derivados, mas têm papel importante de suporte, pesquisa e desenvolvimento: startups de melhoramento genético, de inovação em processo de cultivo, de serviços financeiros específicos para Cannabis, empresas de divulgação de notícias, organizações e profissionais de divulgação de conhecimento e treinamento, universidades, como a UFRGS, têm projetos de pesquisa com o desenvolvimento de remédios, e um dos mais importantes hospitais do país, o Hospital Sírio-Libanês, já conta com um “Núcleo de Cannabis Medicinal”. Concluímos que a transformação do mercado de maconha e seus derivados no Brasil é uma realidade já consolidada na sua organicidade e profundidade. Esse mercado que se revoluciona está orientado para o lucro privado com muito pouco acontecendo em termos de ações públicas para o suporte às comunidades vulneráveis, cabendo desde já a participação do Estado na regulação e constituição ativa dos processos de produção, circulação e consumo da Cannabis com objetivo de geração de justiça e equidade social.



Palavras-chave


Modelo de mercado; Cannabis; Colorado

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