Última alteração: 21-11-2022
Resumo
O presente trabalho relata a experiência de pesquisa sobre autodefinição no pensamento de autoras negras brasileiras. A partir do estudo de autodefinição, termo cunhado pela autora norte-americana Patricia Hill Collins, procurou-se estabelecer uma relação que compreendesse o discurso de Lélia Gonzalez, guardadas as especificidades brasileiras, utilizando-se de sua obra “Primavera para as rosas negras”. No que diz respeito ao tema de enunciação, a pesquisa procura interpretar os aspectos da linguagem como processo de subjetivação para constatar o processo de construção do sujeito negro na coletividade. Ao longo de sua obra, González descreve como o mito da democracia racial foi utilizado como respaldo para manter os sujeitos negros em condições subalternas de vida e como essa condição foi utilizada para justificar a sua miserabilidade, isto é, a culpabilidade do sujeito pela sua condição e não reconhecimento de uma sistema que foi criado com o intuito de que este sujeito falhe. Um dos objetivos da pesquisa também é relacionar como, no âmbito da negritude, a autodefinição põe a comunidade negra no centro da cultura brasileira e como essas contribuições devem ser levadas em consideração para pensarmos uma efetiva luta contra a disparidade racial, utilizando referenciais próprios baseados na experiência e vivência de mulheres negras brasileiras. Trata-se de um trabalho teórico-analítico que parte do pensamento de uma autora consagrada tanto na linguística quanto no debate racial. As etapas da pesquisa correspondem às leituras previamente assinaladas pela Profª orientadora, seguidas pelo fichamento de ordem lógica e interpretativa que é abordado com considerações pessoais pela bolsista. Também é utilizado um quadro para discriminar a pertinência ou não pertinência do objeto à pesquisa, com o propósito de sistematizar o processo e, assim, distinguir a relação entre as autoras (Hills e González). O quadro consiste em discriminar as leituras em: (a) pertinente; (b) parcialmente pertinente; (c) não pertinente. Após as etapas mencionadas, ocorrem encontros abertos à comunidade interna do IFRS - Campus Porto Alegre, duas vezes por mês para debater os conceitos fundamentais da pesquisa abrangendo o pensamento negro e a luta antirracista. Os resultados parciais da pesquisa apresentam quatro abordagens que permitam explicar a como a população negra estaria situada nos mais baixos níveis de participação na força de trabalho, são estas: (a) culpabilização do negro, isenção do branco; (b) corrente marxista diluindo o marcador de raça; (c) como que, historicamente, a população negra foi se ocupando na força de trabalho; (d) resposta da branquitude para quando as pessoas negras apontam essas três abordagens. Esses quatro aspectos dizem respeito à autodefinição, guardadas as proporções e especificidades do contexto.