Última alteração: 22-11-2021
Resumo
O uso da cannabis faz parte da história da humanidade há mais de 12 mil anos e recentemente vem passando por uma profunda transformação ao redor do planeta. Existem registros do uso da planta para fins recreativos, medicinais, religiosos, industriais, entre outros, sendo uma prática presente nos mais variados locais do mundo e em diferentes épocas. Porém, nas últimas décadas, a cannabis (popularmente conhecida como maconha) vem sendo vista como perigosa, e foi tornada ilegal na maioria dos países. No Brasil, sintomático à proibição, há um forte preconceito e brutal repressão do Estado destinado aos portadores e vendedores de cannabis. Apesar dessa conjuntura opressora, a cannabis é o terceiro psicoativo mais utilizado no país, fato que faz indagar o porquê dessa substância, majoritariamente vista como prejudicial pela sociedade, ser tão consumida. O objetivo deste trabalho é explorar os efeitos que motivam o uso recreativo/psicodélico da cannabis, visando agregar conhecimento sobre esta realidade em pleno processo de transformação no Brasil. Para a realização desta pesquisa foram coletados e analisados artigos científicos e capítulos de livros sobre o tema, a partir dos quais os usos foram identificados e categorizados. Os resultados parciais indicam que na cultura canábica, é normal que um novo usuário seja “iniciado” por um grupo/parceria, visto que quem busca o uso recreativo/psicodélico da cannabis pela primeira vez, tem pouca ou nenhuma experiência com o psicoativo, tanto no processo de adquiri-lo, quanto em relação aos efeitos. Também é comum que os efeitos procurados sejam habitualmente os mesmos (devido a falta de conhecimento profundo sobre os efeitos do uso), mais ligados à dimensão recreativa: busca de bem-estar e relaxamento; euforia e estímulo para atividades em geral; aumento da sociabilidade/amabilidade; aumento do apetite alimentar; e alteração da percepção do tempo. Porém, conforme estes novos usuários aprendem a consumir a droga, eles vão manejando seus hábitos e preferências. Isso se traduz em saber qual a quantidade necessária para ter a afetação desejada, qual contexto favorece o uso, etc. Os efeitos da cannabis também são influenciados pela experiência e expectativa do usuário e especificidades de cada cepa, entre outros. A autonomia adquirida com o tempo agrega experiência ao usuário em relação aos efeitos da cannabis possibilitando que o usuário procure novos usos e sensações, como: uso terapêutico ou medicinal; alteração de perspectiva/criatividade; alteração e aumento dos sentidos pela percepção de sons, imagens, odores e gostos; sensação de fluxo/concentração na atividade presente; melhoria da experiência sexual. Concluímos que a realidade da cannabis só será entendida e devidamente tratada como política pública se cada um dos efeitos que ela causa aos usuários forem compreendidos com o devido respeito às forças da planta que causam desejo nas pessoas.