Última alteração: 12-01-2021
Resumo
O projeto Transnacionalidades: Literatura brasileira contemporânea e(m) tradução surgiu no ano de 2017 como uma forma de avaliar o funcionamento e a difusão da literatura brasileira no cenário contemporâneo e globalizado em relação à chamada global literature. Dessa forma, o projeto concentra-se na análise de obras nacionais que passaram por um processo de tradução para a língua inglesa e avaliação do impacto desse processo. No ano de 2019, foram realizadas análises de dados quanto à influência dos prêmios literários no processo de tradução. Com os resultados obtidos, constatou-se uma carência de mulheres nesses ambientes, bem como uma maior dificuldade para estas terem suas obras traduzidas, o que demonstra traços da hegemonia cultural no sistema literário atual. Dessa forma, percebeu-se a necessidade de realizar estudos que priorizassem escritoras finalistas e vencedoras de prêmios literários cujas obras não foram traduzidas. Em 2020, o projeto tem por objetivo ampliar a análise dos dados referentes à tradução da literatura nacional para a língua inglesa, de forma a fomentar a plataforma Richard Burton - uma base de dados acerca da literatura brasileira em tradução elaborada em uma versão anterior do projeto em 2015, bem como realizar estudos literários com base em escritoras brasileiras contemporâneas premiadas e não traduzidas. Como corpus de análise, foi escolhida a obra Enfim, Imperatriz, da escritora paulista Maria Fernanda Elias Maglio, autora vencedora do prêmio literário Jabuti do ano de 2018. A obra de contos retrata diversas vivências com uma grande variedade de perspectivas, trazendo à tona questões político-sociais da contemporaneidade. A análise foi dividida em duas etapas: a primeira contou com a análise da presença do feminino na obra pela perspectiva de protagonistas e/ou narradoras, bem como de espacialidades e trânsitos geográficos realizados pela autora; a segunda etapa teve o intuito de analisar como a obra traz a questão da objetificação do corpo feminino em um espectro global pelos contos “Enfim, Imperatriz”, “Viva em Maputo” e “Geni”. Como resultados parciais, pode-se perceber o forte protagonismo feminino presente na obra e a problematização de relações que corroboram a masculinidade hegemônica na sociedade contemporânea. Fez-se claro também o uso do espaço como mecanismo de democratização e globalização, com uma obra transnacional, repleta de mobilidade, na qual todos podem ver-se refletidos. Por fim, percebe-se a importância de projetos como este à democratização da leitura, bem como o papel da tradução como mecanismo para a difusão da literatura em nível global.