Última alteração: 09-12-2019
Resumo
As narrativas que estão presentes na memória das comunidades quilombolas oferecem um rico subsídio para o trabalho na escola. Todavia, essas culturas costumam ser pouco representadas no espaço escolar. Essa situação é resultado de um processo de colonização que se estende desde muito tempo, marcando com violência e desrespeito a história dessas comunidades. Por essa razão, esse projeto tem como objetivo investigar, junto a duas comunidades quilombolas da região norte do Rio Grande do Sul (Arvinha e Mormaça), as narrativas orais que perpassam o cenário, a história e a memória dessas comunidades a fim de que sirvam de apoio para o ensino da cultura afro-brasileira na escola. Trata-se, portanto, dentre outras definições, de uma pesquisa qualitativa, participante, com aporte na história oral. Investigamos, por meio de conversas com os moradores das duas comunidades, saberes e memórias, que são a base de sua história. As estudantes que perfazem a equipe do projeto são quilombolas. Elas acompanham as visitas aos comunitários, participam da elaboração e protagonizam a aplicação de oficinas com professores e alunos. A partir do trabalho de campo foi possível conhecer mais sobre a historicidade das comunidades, bem como de seus entornos. As conversas com os mais idosos mostraram uma região no período da República Velha permeada por conflitos. Tais narrativas nos chegam através de causos que mesclam humor, mistério, altruísmo, resiliência e vidas construídas pelo trabalho campesino. No conjunto das narrativas é possível perceber a realidade das duas comunidades quilombolas que, ainda hoje, resistem a um sistema que há séculos busca dispersá-los e mantê-los aquém de melhores oportunidades de trabalho, moradia, educação e saúde. Preocupadas com a salvaguarda das informações coletadas, observando-se os preceitos éticos, grande parte do material (histórias e áudios) foi catalogado no banco de dados do acervo do Memorial do IFRS - Campus Sertão à disposição de estudantes, pesquisadores e profissionais da educação. Esses resultados também têm sido compartilhados em reuniões com as comunidades que avaliam as ações de forma atenta e propositiva. Da mesma forma, as oficinas temáticas têm sido bem recebidas pelo público a que se destinam e favorecem um espaço de conhecimento, reflexão e debate acerca da história e dos saberes quilombolas presentes na região, oportunizando a quebra de estereótipos que permeiam o imaginário da população em relação a estas comunidades e a valorização da cultura afro-brasileira no espaço escolar e acadêmico.