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Processos pedagógicos em práticas musicais coletivas: Inserção de alunos do Espectro do Transtorno Autista em Práticas Musicais Coletivas
Daniel Wolfarth Mossi, Maria Amélia Benincá de Farias

Última alteração: 28-02-2020

Resumo


A partir das práticas voltadas ao ensino coletivo de música, surgiu a demanda por ferramentas para inserção de alunos diagnosticados no Espectro do Transtorno Autista nestes processos. A socialização é um dos principais desafios para inserção destes alunos em práticas de ensino coletiva. A psicanálise, a partir de Lacan, define a estrutura psíquica do autista na “alienação do eu do sujeito”, que “introjetado a si mesmo”, possui dificuldades no reconhecimento do Outro. Observando a aula individual de um aluno situado dentro do espectro autista foi constatado que este, ao dirigir-se a janela de vidro duplo que há na sala de aula, não estava olhando para fora da sala, como inicialmente se imaginava. Entre os dois vidros, que promovem o isolamento acústico da sala/estúdio, era possível em determinado ângulo de reflexão da luz que ali surgia o seu próprio reflexo. Surge a idéia de utilizar a câmera de um ​smartphone aplicada à função deselfie​: aparentemente desconectado das atividades propostas, neste momento ele se vinculou à imagem e sentou-se ao piano. Com o telefone proporcionando uma espécie de espelho, o aluno passou a tocar o piano e a interagir com o professor e o bolsista. A interação com a imagem expandiu-se ao instrumento musical piano, sobre o qual a tela apoiava-se onde ficariam partituras. O instrumento musical, suportando a câmera, passou a ser extensão desta interação, através da qual o aluno passa a se expressar. Investigamos se através deste dispositivo ​imagem-vídeo é possível expandir seus canais de expressão, ou ainda, se é possível a inclusão de um novo elemento na imagem projetada: a presença de um Outro, um ser externo a autoimagem. ​Espera-se que através dessa inscrição de um novo elemento simbólico que transcende a autoimagem e alienação no estágio do espelho, possa-se expandir as possibilidades de interação do aluno nas práticas de ensino musical coletivo, bem como, prover um aprimoramento em sua socialização e seu desenvolvimento humano e psíquico. Passamos a utilizar a ferramenta do vídeo para produção de registros de suas atividades. A metáfora do espelho mostrou-se literal quando o aluno emitiu ar quente na tela do celular, como se esperasse que ela embaçasse tal como aconteceria a um espelho. Pode-se observar neste material o aluno reproduzir a interação mãe-bebê com sua imagem refletida na câmera, fazendo carinhos em si mesmo, vocalizando e fazendo “caras” de acolhimento e amparo direcionadas a sua imagem.


Palavras-chave


​prática musical coletiva, educação musical, espectro autista

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