Última alteração: 14-03-2018
Resumo
O presente trabalho está filiado à Análise do Discurso de linha francesa/pecheutiana, uma teoria de entremeio que mobiliza conceitos de três áreas do conhecimento. São elas: linguística, materialismo histórico e psicanálise. Faz-se a utilização da análise do discurso para esse tipo de pesquisa por ser a teoria que envolve aquilo que é da exterioridade da língua, ao contrário da linguística tradicional Saussuriana. Vale ressaltar que o par língua/discurso se constitui em completa oposição à ruptura entre língua e fala proposta por Saussure no século XX quando instituiu a linguística como ciência. Essa pesquisa demonstra os processos de subjetivação do sujeito a partir da linguagem, o que significa dizer que podemos perceber de que maneira a língua materna e a língua estrangeira afetam a ideologia do sujeito, estruturam-no enquanto brasileiro no exterior e também como o reestruturam quando retorna ao ambiente de língua materna. Para alcançar os resultados almejados por essa pesquisa foi preciso realizar entrevistas com brasileiros, que viveram no mínimo um ano em países cuja língua nacional não era o português, perguntando sobre vivências, sociedades e culturas. Em seguida foi necessário transcrever essas entrevistas, analisar os trechos desse corpus sob o ponto de vista pecheutiano do discurso, procurando por relatos que apontem para a nossa hipótese inicial, que diz que o sujeito quando inscrito em uma língua outra reconfigura seus modos de pensar e consequentemente os seus modos de dizer. Os resultados nos conduzem a uma mudança na postura do sujeito, ele se questiona sobre o seu dizer em língua estrangeira e passa a (re)configurar seus próprios modos de dizer em língua materna. Sendo a língua parte estruturante do sujeito haverá um conflito na instância subjetiva e, com isso, se percebe um choque entre línguas estrangeira e materna. Pode-se notar que o sujeito vai refletir sobre sua posição perante a sociedade, sobre seus princípios e valores, sobre seu lugar enquanto membro de um grupo social e que esse processo de subjetivação nunca vai estar completo.