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A noção de pessoa a partir de uma concepção benvenistiana: um estudo de caso
Eduardo Ogliari Boaria, Charlies Uilian de Campos Silva

Última alteração: 01-11-2016

Resumo


Este trabalho apresenta-se como uma abordagem teórica cujo principal objetivo consiste em realizar uma análise que compreenda, problematize e formule uma proposta de reorganização do conceito de pronome pessoal conforme consta em um livro didático de língua portuguesa, aprovado e distribuído pelo Ministério da Educação em uma escola pública de ensino médio da rede federal de ensino, localizada no bairro Restinga, Porto Alegre/RS. O referencial teórico para esta análise consiste em dois artigos de Émile Benveniste, presentes na obra Problemas de Linguística Geral I, intitulados “A natureza dos pronomes” e “Estrutura das relações de pessoa no verbo”. A partir das noções formuladas por Benveniste, procura-se compreender e (res)significar os conceitos de pessoa em relação ao verbo, bem como as noções de pluralização e inversibilidade; além disso, far-se-á uma discussão a respeito da forma pela qual o tema é tratado e ensinado neste livro didático. A concepção elaborada por Benveniste instaura a noção de pessoa no conjunto de reflexões sobre a língua e a linguagem, realocando a língua como um problema geral de linguagem, de forma que não mais esteja circunscrita a uma designação das formas verbais, mas ocupe uma posição central para o próprio exercício da fala. Dessa forma, elabora-se uma nova concepção para as três pessoas (eu, tu e ele), problematizando sua pluralização, sua natureza e seus fundamentos como elementos que mobilizam a língua inteira. Tais posições atualizam-se virtualmente no discurso e configuram-se como posições na linguagem, de tal forma que haja uma inversibilidade nas inscrições das pessoas que enunciam, configurando um intercâmbio entre eu e tu. Em uma perspectiva benvenistiana, considera-se a terceira pessoa como aquele que não está presente e não se instancia no discurso e, como tal, torna-se a não pessoa, ou seja, refere-se a esta como uma forma de negar a existência da posição de pessoa, tomando-a como a um objeto discursivo. Há uma transposição da tradição gramatical para uma percepção linguística de natureza mais descritiva, linguística, universal e filosófica. A noção de pessoa em Benveniste permite, assim, uma reflexão sobre a língua em uso. Percebe-se que o livro didático, tanto em suas formulações teóricas quanto em suas propostas de exercício, apresenta uma visão estanque sobre os pronomes pessoais; concluímos que é necessária uma releitura de tais pronomes, a fim de que haja uma maior compreensão da língua, da linguagem e das implicações éticas advindas de tais noções.


Palavras-chave


sistema pronominal; Émile Benveniste; ensino

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