Última alteração: 01-11-2016
Resumo
Pescadores artesanais de tarrafa e botos da espécie Tursiops gephyreus Lahile 1908 cooperam na pesca da tainha (principal recurso da pesca artesanal) na Barra da Laguna de Tramandaí há pelo menos 60 anos. Esse tipo de interação ocorre exclusivamente no sul do Brasil, não sendo conhecida um tipo de cooperação tão ritualizada em nenhum outro lugar do mundo. Cada boto é conhecido por um nome num cenário histórico-espacial específico que configura uma relação boto-pescador extremamente relevante para a subsistência e para a cultura da comunidade tradicional de pescadores de tarrafa. Entretanto, tal interação corre risco de se extinguir devido ao intenso tráfego de embarcações recreativas, pesca recreativa, poluição, falta do ordenamento do uso da área, especulação imobiliária e a degradação ambiental. Esses fatores têm sido relacionados pelos pescadores como desfavoráveis a presença dos botos e a pesca tradicional. Neste contexto, objetiva-se contribuir para o fortalecimento deste patrimônio cultural ímpar que se mantém invisível, desconstruir estereótipos deletérios atribuídos aos pescadores, resgatar também sua auto-estima e contribuir com estes cotidianos de trabalho singulares e sustentáveis. A equipe envolvida é multidisciplinar, composta por estudantes de diferentes modalidades, pesquisadores e extensionistas de instituições diversas (e.g. IFRS, EMATER, UFRGS e CECLIMAR). A aproximação da equipe com a comunidade enfocada foi construída paulatinamente e os avanços neste sentido são remarcáveis. Foram promovidos encontros e reuniões, bem como entrevistas com o uso de metodologias da antropologia visual e narrativas biográficas. Inicialmente foram credenciados oito pescadores que possuem Registro Geral de Pesca, Licença Ambiental de Pesca e que conhecem de forma detalhada os rituais da interação e os botos da Barra. A construção da identidade visual "pescador amigo do boto" e o fornecimento de equipamentos aos pescadores (camisetas, bonés, jardineiras e jaquetas impermeáveis) vem favorecendo a pro-atividade destes no sentido de comunicar suas posições e demandas para maximizar sua competitividade e ampliar suas possibilidades de sobrevivência no mercado. Tais resultados são potencializadores da sustentabilidade, do equilíbrio ambiental, do respeito às culturas locais, da justiça social e econômica e das relações éticas.