A pesquisa integra a tese de doutorado em andamento provisoriamente intitulada como Marcadores de classe social nas vozes do discurso telejornalístico sobre a pobreza. A partir desta investigação, busca-se compreender como os marcadores de classe social interferem na forma como a pobreza é apreendida pelo discurso telejornalístico. Reportagens exibidas pelos programas jornalísticos Caminhos da Reportagem (TV Brasil), Câmera Record (Rede Record), Conexão Repórter (SBT) e Profissão Repórter (Rede Globo) constituem o corpus do estudo. A discussão teórica engloba principalmente os conceitos de classe social, telejornalismo e discurso. O conceito de classe social mobilizado neste trabalho leva em conta fatores como renda, escolaridade, ocupação e consumo dos indivíduos, mas se concentra sobretudo nas dimensões simbólicas e imateriais presentes na reprodução das classes sociais. O telejornalismo é tratado em suas especificidades técnicas, éticas e estéticas, e a reportagem televisiva é caracterizada e discutida como espaço fecundo para o tratamento de temas complexos como a pobreza e a desigualdade social. A pesquisa reconhece o telejornalismo como uma prática marcada por condições de produção discursiva específicas, um tipo de discurso que pode tanto reproduzir sentidos naturalistas acerca da pobreza, como também sentidos complexos em relação ao fenômeno. A Análise de Discurso, linha de tradição francesa, é utilizada como método, considerando também sua dimensão conceitual. Ainda em execução, a pesquisa atualmente está em fase de discussão teórica de noções centrais, bem como de exercícios analíticos. O primeiro movimento de análise foi a leitura crítica (análise discursiva) da reportagem Retratos da Pobreza, exibida pelo programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil. O exercício analítico já sinalizou alguns resultados preliminares, o que permite a continuação da pesquisa com o aprofundamento da reflexão teórica e a realização de novos gestos de análise. Dentre as considerações parciais do estudo, sublinha-se a verificação de que o telejornalismo, em seus movimentos de produção de sentidos, delimita determinadas posições discursivas às fontes das classes populares (indivíduos mais pobres). Dentre tais posições destacam-se: posição de descrição, posição de ilustração e posição de lamentação. Em poucos momentos da primeira reportagem analisada, indivíduos das classes populares têm seus dizeres vinculados à posições propositivas, explicativas e analíticas. Essa constatação sinaliza a necessidade de mais análises acerca das posições discursivas ocupadas pelos indivíduos das classes populares no telejornalismo. Por estar em desenvolvimento, o trabalho ainda amadurecerá suas considerações a partir da análise de outras reportagens e problematização dos resultados.