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Influência da ciência nutricional nas escolhas alimentares
Louise Barbosa Palma, Carolina Gheller Miguens

Última alteração: 21-09-2017

Resumo


A alimentação deve ser prazerosa para que os indivíduos tenham vontade de se alimentar e nutrir, salvaguardando a continuidade da espécie.  Ela expressa a cultura de determinada região e sempre esteve associada aos produtos produzidos pela comunidade e condicionada à época de produção. Com as facilidades da vida moderna, há acesso a uma grande variedade de produtos a qualquer época do ano ocasionando mudanças de estilo de vida que influenciam diretamente as tradições alimentares. Somando-se a isso, os primeiros escritos médicos já se referiam à dieta; além dessas mesas terapêuticas, há fontes históricas sobre a utilização da alimentação como parte essencial da medicina preventiva. Os livros de conselhos práticos para conservar a saúde e as referências a regimes alimentares não convencionais evidenciam o quão antiga é a preocupação alimentar ligada à saúde. Por outro lado, após a Revolução Industrial, houve uma grande facilidade de acesso a alimentos ultra-processados de baixo preço e pouco preocupados com seu valor nutricional. Com a oferta de “comida”, geralmente bastante calórica e rica em açúcares, gorduras e aditivos químicos, passamos a observar, nos grandes centros, uma epidemia de obesidade, doença até então menos comum, e todas as complicações a ela associadas. A partir dessa desse fato, a humanidade passou a dar mais atenção aos alimentos, preocupando-se com o valor nutricional do que consome. A ciência nutricional, por sua vez, reforça essa concepção, pois divulga estudos sobre os benefícios dos mais diversos nutrientes e não dos próprios alimentos que os contêm naturalmente. Esse foco na linguagem acadêmica confunde os consumidores, os quais acabam optando por produtos industrializados; a linguagem alimentar, nesse sentido, é oficialmente codificada para expressar, nas embalagens, os nomes complicados divulgados como saudáveis. Assim, a partir de uma pesquisa de abordagem qualitativa e natureza básica, através de revisão da literatura clássica e de publicações contemporâneas, o presente estudo analisa essas transformações que ocorrem na nossa sociedade, visando compreender a racionalidade nutricional e relacioná-la à medicalização da alimentação. Vivemos um tempo em que as pessoas atribuem excessiva importância ao consumo de alimentos ditados pela mídia como saudáveis em detrimento do prazer de uma boa refeição. A medicalização da alimentação na nossa sociedade tornou-se tão corriqueira que, diariamente, quase sem perceber, fazemos escolhas alimentares condicionadas aos estudos das propriedades destes alimentos. O fato de as pessoas estarem mais atentas à sua saúde é benéfico; entretanto, quando se transforma em um transtorno obsessivo, que se impõe sobre o prazer de comer e apaga costumes tradicionais, passa a ser perigoso para o nosso reconhecimento como cidadãos pertencentes a uma cultura e sociedade. Essa nova forma de viver, gera uma ruptura com o meio social de origem, expondo as antigas tradições a um possível esquecimento após algumas gerações.


Palavras-chave


Alimentação saudável, Medicalização, Transformações alimentares.

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