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A influência do caso do Estripador de Yorkshire na segunda onda do feminismo no Reino Unido
Sofia Zancanaro Habeck, Letícia Schneider Ferreira

Última alteração: 23-03-2021

Resumo


Peter Sutcliffe, também conhecido como o Estripador de Yorkshire, foi um assassino em série que aterrorizou o norte da Inglaterra no fim dos anos 70. Desde o início das investigações até os dias atuais este homem ficou conhecido como um assassino de prostitutas, porém, ao investigar e analisar as origens do caso, incluindo as conclusões da polícia, jornais e governo, é possível perceber a grande influência do machismo estrutural, o preconceito padrão enraizado e institucionalizado por gerações no modo em que somos socializados, em toda repercussão do crime. As vítimas de Peter Sutcliffe eram expostas nos jornais da cidade e julgadas de acordo com seu estilo de vida. A mulher que a polícia pensava ser a primeira vítima do assassino, Wilma McCann, foi vista como uma prostituta por sair à noite para beber. Nas reportagens era possível perceber o tom de culpa atribuído às vítimas, que eram tratadas como merecedoras do que havia acontecido por conta de seu estilo de vida. Seguir a linha de investigação a qual dizia que procuravam um assassino de prostitutas atrapalhou boa parte do caso, fazendo a polícia descartar provas, relatos de vítimas sobreviventes e até mesmo o próprio Peter Sutcliffe, cujo fora interrogado nove vezes, sem nenhuma consequência, afinal, ele era um homem normal, casado e trabalhador. Com o andar lento e sem sucesso da polícia, um toque de recolher foi imposto. Este toque de recolher era apenas para as mulheres. Apesar do assassino ser um homem, quem precisava obedecer o toque eram apenas as mulheres, enquanto os homens ficavam até tarde nas ruas sem serem julgados. Isso foi um gatilho para os protestos contra a opressão e a favor da liberdade de decisão feminina no Reino Unido. Foram protestos que mobilizaram milhares de mulheres  e conectavam-se com a segunda onda feminista, iniciada nos anos 50 e que atingiu seu auge na década de 60/70, onde buscavam discutir as questões de desigualdade e discriminação, além de reivindicar seus direitos e criticar o trabalho da polícia. O caso do Estripador de Yorkshire escancarou algo muito presente na sociedade até os dias atuais: a culpabilização jogada em cima das vítimas e o silenciamento das mulheres. A partir de pesquisas bibliográficas dos relatos jornalísticos de Joan Smith e Alan Whitehouse sobre o caso, podemos entender como o pensamento patriarcal, forma de pensar institucionalizada a partir do sistema sociopolítico que coloca os homens cisgêneros em posição de poder, atrapalhou as investigações e atrasou a captura do culpado, enquanto a sociedade focava em culpar as mulheres vítimas de toda a situação. Buscar entender o funcionamento do caso e como isso provocou os protestos feministas na época e contribuiu para a segunda onda do feminismo no Reino Unido nos ajuda a compreender como o machismo estrutural é um dos maiores vilões na luta contra assassinos que focam em mulheres e mostra como a mídia e a sociedade patriarcal ajuda a esconder e moldar as faces de criminosos.



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