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A importância da EJA: caracterização de um grupo da periferia de Porto Alegre
Jacqueline Vaccaro Teer, Leandro Jesus Basegio, Cleci Regina Bevilacqua (Orientadora)

Última alteração: 07-10-2019

Resumo


Este trabalho tem como objetivo, por um lado, apresentar o perfil sociobiográfico de alunos matriculados no ensino fundamental na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), à noite, numa escola municipal de um bairro periférico do extremo sul de Porto Alegre e, por outro, defender a importância da oferta dessa modalidade educacional. O trabalho se justifica pelo fato que a EJA, atualmente, tem sido alvo de ataques por parte dos governos nos três níveis da União; no plano federal, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI-MEC), que coordenava as políticas voltadas para a EJA, foi extinta no início do ano de 2019, com as reformulações feitas no MEC pelo novo governo federal (CALÇADE, 2019);  nos níveis estadual e municipal, além de constantes ameaças, houve fechamento de turmas dessa modalidade de ensino (WEBER, 2018; Fogliatto, 2018; COSTA, 2017). É nesse sentido que se faz importante conhecer os sujeitos atendidos pela EJA através de um estudo exploratório, levantando dados sobre o seu perfil sociobiográfico, qualificando assim os argumentos que demonstram as especificidades desta modalidade de ensino, bem como a necessidade de seu reforço e continuidade. Para atingir tais objetivos, discutiremos os dados obtidos através da aplicação de um questionário socioeconômico, onde os alunos responderam sobre seus dados pessoais, e, também, por meio da nossa observação e vivência como docentes. Para atingir tais fins, o questionário foi elaborado, de forma geral, com perguntas fechadas de múltipla escolha, embora contenha perguntas de resposta aberta como “Qual foi a última escola que você estudou?” ou “Quanto tempo você demora para chegar da sua casa até a escola?”. Possui 27 questões e exige, pelo menos, um tempo de trinta minutos para responde-lo. Por meio desse instrumento de pesquisa, os 77 alunos participantes foram questionados quanto a: sexo, idade, estado civil, situação ocupacional (própria e da família), situação de moradia, número de filhos, renda (individual e familiar), etnia, escolaridade dos progenitores, número de irmãos, tempo longe dos estudos, motivo pelo qual deixou de estudar, última escola que estudou, motivo pelo qual voltou a estudar, região do bairro que reside, tempo de deslocamento entre casa e escola e casa e trabalho e número de reprovações escolares. Os dados foram alocados no programa SPSS, programa informático estatístico muito usado na área das Ciências Sociais, e organizados em gráficos para a análise. A análise dos dados, primeiramente, permitiu afirmar que a maior parte do público atual de EJA se compõe de mulheres e de adolescentes: do total de questionários recebidos, 80% se identificaram como mulheres e 40% como adolescentes – considerando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que limita à adolescência até os 18 anos. Se, contudo, pensarmos em ‘adultos jovens’, fixando um limite de 30 anos de idade, teríamos uma porcentagem de 73% dos alunos. Este dado reflete o fenômeno da juvenilização da EJA, derivado, segundo Basegio e Borges (2013), de duas circunstâncias: muitos jovens oriundos das classes populares precisam ingressar cedo no mercado de trabalho para contribuir com o sustento das suas famílias, optando por estudar na modalidade EJA – pela noite, e a modalidade EJA servindo como última instância para alunos com problemas disciplinares ou de repetência múltipla na modalidade regular. Também foi observado o dado relacionado à prevalência de alunos desempregados (45%) quando questionados sobre a situação ocupacional – devemos observar que embora a idade mostre que a maioria dos discentes são jovens, eles optaram pela opção ‘desempregado’ em detrimento da opção ‘nunca trabalhou’, revelando sua, pelo menos, tentativa de ingresso ou passagem pelomundo do trabalho. Os dados também apontaram para famílias numerosas (a maioria têm mais de cinco filhos) onde os responsáveis têm baixa escolaridade (pais e mães analfabetos ou apenas com ensino fundamental). Outra questão interessante que podemos relacionar com a idade do grupo de entrevistado é que apenas 52% não possuem filhos, ou seja, temos adolescentes e jovens que são pais (17% dos menores de 18, por exemplo, já são pais). Finalmente, os dados obtidos permitem defender a importância dessa modalidade educacional, oferecida perto das residências dos alunos, pois se trata de um público trabalhador que: mora perto da escola, precisa estudar a noite, busca uma melhor formação relacionada ao desemprego e se organiza em famílias mantidas, em geral, por uma figura feminina (a mãe).

 


Palavras-chave


EJA; questionário socioeconômico; caracterização do grupo de alunos

Referências


BASEGIO, Leandro Jesus; BORGES, Márcia de Castro. Educação de Jovens e Adultos: reflexões sobre novas práticas pedagógicas. Curitiba: Editora InterSaberes, 2013. 132 p.

BASEGIO, Leandro Jesus; MEDEIROS, Renato da Luz. Educação de Jovens e Adultos: problemas e soluções. Curitiba: InterSaberes, 2013.

CALÇADE, Paula. O que muda no Ministério da Educação. In: Nova escola, 22 de janeiro de 2019. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/15272/o-que-muda-na-estrutura-do-ministerio-da-educacao>. Acesso em 17 de set. 2019.

COSTA, Fernanda da. Restrição da EJA deve aumentar o desemprego em Porto Alegre, afirma Simpa. In: Correio do Povo, 24 de julho de 2017. Disponível em: <https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/ensino/restri%C3%A7%C3%A3o-da-eja-deve-aumentar-o-desemprego-em-porto-alegre-afirma-simpa-1.236762>. Acesso em 17 de set. 2019.

FIELD, Andy. Descobrindo a estatística usando o SPSS. Tradução: Lorí Viali. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

FOGLIATTO, Débora. Professores temem desmonte da EJA em Porto Alegre. In: Sul21, 11 de dezembro de 2018. Disponível em: <https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/geral/2018/12/professores-temem-desmonte-da-eja-em-porto-alegre/>. Acesso em 17 de set. 2019.

WEBER, Jéssica Rebeca. Porto Alegre tem uma escola voltada a moradores de rua; veja como funciona. In: GauchaZH, 10 de julho de 2018. Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2018/07/porto-alegre-tem-uma-escola-voltada-a-moradores-de-rua-veja-como-funciona-cjjg0x1fi0q1901qo75tflo6h.html>. Acesso em 17 de set. 2019.

 


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