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O turbante e o empoderamento da mulher africana: uma abordagem em turmas da EJA.
Itamar Ifarraguirre Neto, Gilberto Luiz Ludwig, Marlize Soares Echeveste

Última alteração: 30-10-2017

Resumo


O Brasil, em seus longos 500 anos, tem a sociedade marcada pela história da escravidão que ainda se reflete no mito da democracia racial e que oculta/mascara o racismo e suas diversas formas de se manifestar diuturnamente (RIBEIRO, 1995). Este projeto de aula tem a finalidade de propor um entendimento da cultura africana e das condições social da mulher negra, na sociedade brasileira, como forma de conscientização dos alunos da EJA, no dia da Consciência Negra. Mais especificamente, podemos observar elementos da cultura negra visivelmente no cotidiano, tal como o turbante, exercendo importante papel social e que também diz tanto da formação da nossa cultura afro-brasileira como hábitos e costumes das mulheres negras.

Assim, servem como um estilo e moda, mas também propõem um resgate da memória da história do povo afro-brasileiro, e igualmente como ato político que denuncia várias formas de racismos estabelecidos entre nós (BORGES, 2015). Portanto, o Colégio Estadual Japão, sabendo que racismo e má-informação andam juntos e que esta é uma preocupação social sempre urgente, propõe para os seus estudantes, no seu processo de ensino e aprendizagem, a pauta do racismo e o resgate da(s) cultura(s) africana(s). Sendo que nossos alunos têm a convivência constante com diferentes etnias dentro e fora da escola. O Colégio Estadual Japão tem como justificativa repensar os seus espaços pedagógicos e seu papel da escola ao incluir o direito à diferença para os alunos da EJA.

A escola propõe a reflexão da história do povo negro a partir do turbante, embasada na lei 10.639, de janeiro de 2003, no currículo oficial da Rede Ensino a partir da obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” para os alunos. Cujos objetivos trabalhados com eles em sala de aula foram: a) Valorização da própria identidade étnica e fortalecimento da autoestima da mulher negra e o devido regate da cultura Afro-brasileira; b) Identificação da África como um importante vetor na formação da identidade do povo brasileiro; c) Valorização do padrão estético da negritude, desconstruindo o preconceito e discriminação racial entre os alunos da EJA.

A metodologia desenvolvida, entre professores da Escola Japão, foi através da Pedagogia Dialógica de Paulo Freire (1979) cuja base central está relacionada ao diálogo e a afetividade como fatores fundamentais nas constituições de sujeitos. No qual educandos e educadores encontram, no diálogo, a ação e a reflexão, em que são indissolúveis daqueles que começam a dialogar visando uma compreensão crítica da realidade. Desse modo, o diálogo gera a conscientização dos educandos nesse processo de ensino aprendizagem. Além dos professores valorizarem o saber de cada educando e ser esse o ponto de partida para prática educativa.

Diante disso, quando há curiosidade em saber um determinado assunto, algo que, de repente, despertou a atenção de alunos e alunas, devemos, a partir disso, analisar estas oportunidades que surgem e, por seguinte, buscar melhor desenvoltura nas estratégias e nos assuntos. De forma que não fique em opiniões contras e a favores deles ou delas, mas que se criem espaços de diálogos com troca de saberes, conhecimento e respeito. Assim ocorreu nas aulas de História, os alunos tiveram acesso a textos didáticos, enviados pelo Governo Federal para conhecerem um pouco mais da História da África e da diversidade de povos e culturas que há no continente africano. Estudaram-se os diversos grupos étnicos que para cá vieram, seus lugares de origem e seu contributo à cultura brasileira. Foram pesquisados grandes nomes do cenário cultural brasileiro que são de origem africana.

De modo igual, seguiram-se nas aulas de Sociologia, cuja pauta se originou a partir de provocações, de vivências, experiências e situações referentes ao tema do projeto. Da mesma forma, continuou nas aulas de Filosofia, onde foi realizado um cine-fórum em torno do filme: Vista minha pele. Por fim, encerrou nas aulas de Artes, onde foram executadas as imagens, realçando as cores e os estilos e fenótipos africanos. E, ademais, aproveitamos o papel pardo, a cola, a tesouras, os lápis de cor, as folhas de ofício, perfis de rostos de mulheres negras, sobras/tiras de diversos tipos e tonalidades de tecidos para confeccionar os turbantes.

Finalmente, o trabalho trouxe benefícios à comunidade escolar, principalmente aos estudantes que se envolveram animadamente e intensamente nas atividades propostas pelos professores. Em parte, um grande número de alunos não tinha ainda ciência da abrangência da contribuição dos povos africanos na cultura brasileira, outros já conheciam e contribuíram bastante em sala de aula. Já a confecção dos turbantes propiciou um resgate da estética negra e, ao mesmo tempo, deu-se uma valorização da identidade étnico-racial da beleza da mulher negra, embora fora do padrão dominante branco/europeu.

Referências:

RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: evolução e sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação – uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3ª edição. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

Site Pesquisado:

BORGES, Adriana. Turbante, Moda e Estilo: Disponível em: <http://obviousmag.org/my_cup_of_tea/2015/05/turbante-cultura-moda-e-estilo.html>. Acesso em: 10 jul. 2017.

VISTA minha pele. Direção Joel Zito Aráujo. Duração 26’46’’ curta-metragem Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LWBodKwuHCM>.  Acesso em: 22 agost.2011

 

 


Palavras-chave


Mulher-Negra; Turbante; Educação de Jovens e Adultos; Cultura Africana.

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