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Itinerários e interações: O cotidiano escolar de alunos moradores de bairros periféricos da escola estadual técnica senador Ernesto Dornelles.
Ketti Maria Cardozo da Rosa, Ana Paula Parodi Eberhardt, Cornelia Eckert

Última alteração: 27-10-2017

Resumo


INTRODUÇÃO

A motivação para a realização desta pesquisa veio da necessidade de encontrar e entender, nas entrelinhas das múltiplas características escolares, as condições que promovem ou dificultam a qualidade do aprendizado dos alunos do Ensino Médio das escolas da rede pública. E dentro destas condições, a distância percorrida por alguns alunos entre o lugar onde moram e a escola foi o fator que mais me chamou a atenção.

Contudo, debruço-me sobre o seguinte recorte temático: alunos moradores de bairros periféricos e matriculados em uma das escolas públicas situadas na região central da cidade. Com base nesse recorte, faço uma análise situacional em que busco observar as relações e interações face a face que se estabelecem durante o cotidiano escolar desses alunos com colegas, professores e funcionários.

JUSTIFICATIVA

Como bolsista do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) Ciências Sociais na Escola Estadual Técnica Senador Ernesto Dornelles, situada na região central da cidade de Porto Alegre – trabalho com alunos do terceiro ano do Ensino Médio. Um dos fatores, dentre tantos, apresentados pelos alunos para justificar a escolha dessa escola despertou-me maior curiosidade. Para eles, as escolas públicas centrais, como diziam os alunos, “são melhores”. Apesar da distância entre a escola e o bairro onde moram, o deslocamento não era fator impeditivo, porque segundo alguns alunos, por mais que a jornada seja cansativa: “o esforço vale a pena”.

Para eles, o fato de frequentarem escolas centrais, mesmo sendo públicas, poderia proporcionar melhores índices no aprendizado. Outros alunos apontavam diversos fatores, como: I) escola próxima do local de trabalho ou estágio do aluno; II) expansão das relações; e III) maiores oportunidades de curso e trabalho.

Este trabalho foi realizado durante as minhas atividades como bolsista do PIBID e apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ UFRGS como requisito parcial para obtenção do conceito final da disciplina de Antropologia Urbana. A partir das condições sociodemográficas, o objetivo deste estudo é analisar fatores que poderiam refletir no campo de possibilidades educacionais dos alunos.

Um dos fatores também considerados é o de vulnerabilidade social, este engloba uma série de elementos, como acesso a saneamento básico, condições da rua, serviços básicos próximos ao bairro, estigma social (IPEA/Brasília, 2015), entre outros elementos que dificultam ou impossibilitam o indivíduo de amenizar as consequências da situação de pobreza.

OBJETIVO

Retratar por meio do cotidiano escolar e das narrativas dos alunos moradores de regiões periféricas – da Escola Estadual Técnica Senador Ernesto Dornelles, de Porto Alegre – como o fator sociodemográfico reflete no campo de possibilidades educacionais desses alunos.

METODOLOGIA

Utilizei o método etnográfico que consiste na produção de uma análise descritivo-situacional dos estudantes e da comunidade escolar. Ademais, usei a observação participante com o propósito de acompanhar o cotidiano escolar dos alunos, além das seguintes ferramentas: diário de campo, questionários e roteiro de entrevista semiestruturada.

RESULTADOS PARCIAIS

Vivemos em uma sociedade capitalista, e as condições habitacionais estão diretamente relacionadas às condições econômicas. Diante dessas evidências, obviamente, poderíamos apontar a condição de moradia como um dos fatores que contribuem para a condição de desviante (VELHO,1985) – conceito utilizado por Gilberto Velho em sua obra Desvio e Divergência - entre os estudantes. Dentro dessa perspectiva, essa condição também pode reverberar diretamente no aprendizado do aluno. No entanto, esse fator não pode ser apontado, apenas e unicamente, como determinante, ou seja, as condições socioeconômicas do aluno e os índices de vulnerabilidade social e demográfica, entre outros índices, não podem ser analisados de forma isolada.

Para esses alunos, a experiência de estudar em outro bairro traz a possibilidade de ampliar relações, culturais e sociais. No entanto, o cansaço da viagem relatado por vários alunos moradores de bairros periféricos é uma condição que pode prejudicar a aprendizagem. O cansaço não é atribuído somente à longa distância percorrida, mas também às condições precárias do meio de transporte e, até mesmo, do horário que o aluno acorda para ir à escola. Esses fatores não impediram esses alunos de buscarem mais oportunidades, estando estas dentro ou fora de seu bairro, mas são limitantes.

CONCLUSÃO

Por meio dos relatos dos alunos e da comunidade escolar, observei a existência de alguns fatores que reverberam diretamente no aprendizado escolar, como: estigma social, vulnerabilidade social e demográfica, entre outros. A condição de aprendizado do aluno não está atrelada somente à localização da escola e moradia, a bagagem cultural e social adquirida na família e ao longo da jornada escolar também são fatores fundamentais que devem ser considerados.

REFERÊNCIAS

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HOGAN, D.; MARANDOLA Jr., E. Vulnerabilidades e riscos: entre Geografia e Demografia. In:XIV ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 1. 2004, Caxambu. Anais... Caxambu: ABEP,2004.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (Brasil). Atlas da vulnerabilidade social nos municípios brasileiros. 1. Brasília, 2015. ISBN 978-85-7811-255-4

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (Brasil). Brasil em Desenvolvimento: Estado, planejamento e políticas públicas. 1. Brasília, 2010. ISBN 978-85-7811-068-0.

LEITE, R. P. CONTRA-USOS E ESPAÇO PÚBLICO: notas sobre a construção social dos lugares na Manguetown. In: RBCS  v.17 n. 49, 2002.

PROGRAMA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA COM CIDADANIA (BRASIL). Território da Paz Restinga: diagnóstico local. 1. Porto Alegre, 2010-2011.

VELHO, Gilberto (org). Estigma e comportamento desviante em Copacabana: Desvio e Divergência, uma crítica da patologia social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.

VELHO, Gilberto. O antropólogo pesquisando em sua cidade: sobre conhecimento e heresia. Rio de Janeiro: Campus, 1980.

VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose.: Antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.

XAVIER, Alice Pereira. Uma visão antropológica da aplicação de questionários na pesquisa em educação. Educ. rev., Jun 2012, n.44, p.293-307. ISSN 0104-4060.

 

 


Palavras-chave


Etnografia; Antropologia Urbana; Sociodemografia; Educação.

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