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IFRS - HISTÓRIA NO AR!: O RACISMO AMBIENTAL E AS ENCHENTES DO RIO GRANDE DO SUL, 2023-2024
Diego de Lima dos Santos, Gabriel Santos Berute

Última alteração: 01-10-2024

Resumo


Os desastres naturais no sul do Brasil em setembro de 2023, entre os quais se destacam as enchentes no Vale do Taquari, deixaram cerca de 359 mil atingidos, 5 mil desabrigados e mais de 21 mil desalojados, além de 47 mortes e 10 desaparecidos. Foi o terceiro maior desastre natural no Rio Grande do Sul em número de mortes, atrás somente das enchentes de 1959 e de 2024. Neste ano, as inundações também atingiram a capital do estado entre o final de abril e início de maio. O governo do Rio Grande do Sul classificou a situação como "a maior catástrofe climática" da história do estado. Após essas tragédias, muitas questões sociais, políticas, econômicas e ambientais foram abertas, interesses empresariais foram expostos para a população e o racismo ambiental. Esse tema está entre as questões discutidas no primeiro episódio do podcast IFRS - História No Ar! em 2024. Nessa ocasião, abordamos o racismo ambiental presente na capital, como as lideranças políticas alimentaram esse processo, o histórico de “limpeza social” feita após ocorrências climáticas que ocorreram durante a história. De tal modo, o objetivo desta comunicação é aprofundar o debate e problematizar as evidências do racismo ambiental. Para tanto, é necessário analisar o significado do conceito e como afetou a população nas cidades atingidas. Racismo ambiental é um termo utilizado para descrever situações de injustiça social no meio ambiental em contexto racializado, ou seja, nas quais comunidades pertencentes a minorias étnicas, como as populações indígenas, negras e asiáticas, são particularmente afetadas. Bairros como Sarandi, Humaitá, Cidade Baixa e Farrapos com grande presença negra, curiosamente (ou não), foram os mais atingidos. Historicamente a população negra sempre foi deslocada para que interesses políticos e econômicos pudessem ser realizados e não foi diferente na capital gaúcha. A Colônia Africana de Porto Alegre possui registros que  mostram ainda que a Colônia existiu por pelo menos cinco décadas até 1940, mas sua história é desconhecida por parte da população. Esses lugares ficavam próximos às áreas centrais da cidade e muitos ex-escravizados e seus descendentes ali se instalaram no final do século XIX. Ao longo do tempo, a área urbana se expandiu e áreas desvalorizadas viraram alvo de uso empresarial e conjuntamente o aumento da população de Porto Alegre causou a necessidade de ampliação das áreas de moradia ou comércio. Com isso, a população negra foi deslocada para áreas cada vez mais distantes dos pontos de turismo e de interesse econômico da cidade. O bairro Cidade Baixa é um exemplo do processo de “limpeza social”, visto como um bairro desvalorizado que fazia parte da chamada Colônia Africana e que, no decorrer dos anos se tornou uma área com prestígio social e econômico. Nas enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul entre 2023 e 2024, este processo de marginalização ficou novamente evidente. Pois essa parte da população ocupa as áreas que foram mais afetadas, mas que demoraram para serem socorridas, demonstrando que o interesse empresarial e governamental alimenta e expõe o racismo ambiental e a diferença social cotidianamente.

Palavras-chave


Racismo Ambiental; Enchentes; Rio Grande do Sul.

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