Portal de Eventos do IFRS, VI Mostra de Pesquisa, Ensino e Extensão do IFRS - Campus Viamão

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COZINHAS SUSTENTÁVEIS: UM INSTRUMENTO DE AUTONOMIA
Irany Eugênia Boff Arteche, Cláudio Fioreze

Última alteração: 08-11-2023

Resumo


O presente trabalho deriva do projeto vinculado ao Programa EcoViamão (Edital IFRS 12/2023) e é voltado para a discussão sobre o uso das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) e dos alimentos oriundos da agroecologia nas cozinhas solidárias do município de Viamão/RS. O contexto de tais estabelecimentos, institucionais públicos e/ou comunitários, de escassez de recursos - financeiros, estruturais e informativos - e centrados no atendimento e acolhimento de populações vulneráveis, revela a importância da inserção da prática do uso total dos alimentos e das PANC, conduzindo à autonomia por uma alimentação adequada, saudável, sustentável, biodiversa e agregada à produção orgânica. Posto isso, o estudo objetiva analisar as potencialidades da construção de cozinhas sustentáveis, com utilização de alimentos provenientes da agroecologia, de PANC, de técnicas culinárias factíveis para todas as partes comestíveis e consequente uso integral dos alimentos. No intento de inspirar, de instigar e de instrumentalizar o manejo dos alimentos, numa perspectiva agroecológica aliada a uma alimentação de baixo impacto financeiro, menor impacto ambiental e maior impacto nutricional, foram desenvolvidas oficinas demonstrativas e participativas sobre culinária e sobre alimentação com merendeiras e demais atores abarcados pela dinâmica das cozinhas envolvidas. Uma das principais PANC ministradas durante o trabalho foi a inflorecência da Musa spp, conhecido como mangará ou coração da bananeira ou umbigo da bananeira, sendo alimento acessível - em termos de coleta e de custo - para o público alvo das oficinas; a partir do ensino de técnicas para torná-lo palatável, esse insumo foi inserido em preparos como escondidinho de aipim, farofa com farinha de mandioca e pastel frito recheado, com destaque para esse último como potencial fonte de geração de renda por meio da comercialização. No caso, apesar do manejo de baixo custo e da palatabilidade da maioria dos preparos com PANC, sobretudo com o mangará, foi constatada uma restrição do repertório alimentar nos estabelecimentos, decorrente, em particular, de uma percepção limitada e convencional dos alimentos, sendo esses predominantemente ultraprocessados e derivados de commodities agrícolas. As considerações elaboradas sublinham a necessidade de aprimorar os hábitos alimentares e as práticas culinárias de modo condizente com a diversidade dos alimentos provenientes da agroecologia, não somente nas cozinhas selecionadas, mas também no cotidiano da população envolvida, ampliando a percepção sobre a alimentação para além da convencionalidade. Por último, o presente trabalho permite formular reflexões acerca da realidade alimentar comunitária, com ênfase no aspecto socioambiental dos alimentos e com contribuições para a agroecologia e para a soberania e segurança alimentar.

Palavras-chave


Cozinhas Solidárias, PANC, Agroecologia