A partir do diálogo entre a História sócio econômica e a História Demográfica, os estudos sobre comércio têm se beneficiado do uso de fontes eclesiásticas (batismo, casamento e óbito) para a reconstituição de redes mercantis. Tomando por objeto de análise os comerciantes atuantes na freguesia Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre e suas redes de comércio e de sociabilidade, durante a primeira metade do século XIX, o objetivo deste trabalho é apresentar as potencialidades dos registros de batismo e de casamento desta localidade para a análise da ascensão e reprodução deste grupo mercantil. Os registros de batismos fornecem informações importantes a respeito dos laços estabelecidos através do compadrio, enquanto os assentos de casamento oferecem subsídios para avaliar como se formavam os laços matrimoniais e as redes de parentesco mantidas pelos agentes mercantis investigados. As fontes encontram-se sob a guarda do Arquivo Histórico da Cúria Metropolitana de Porto Alegre (AHCMPA, 1772-1855) e suas informações estão sendo abastecidas em um banco de dados (NACAOB). Trata-se de uma base de dados online que permitirá a análise dos dados coletados e o cruzamento com outras documentações, tais como escrituras públicas de venda, crédito, sociedade e as procurações. Espera-se demonstrar que as relações estabelecidas entre estes agentes não se resumiam as suas atividades sócio profissionais. As relações familiares, especialmente as alianças matrimoniais e de compadrio, constituíam-se em recursos acionados nas estratégias de ascensão social e de reprodução do grupo mercantil em questão. A utilização do conceito de estratégia (Levi, 2002) pressupõe que em sociedades onde os recursos materiais, culturais e cognitivos são distribuídos desigualmente, os indivíduos buscam meios para manipular ativamente estes recursos dentro de um campo de possibilidades. Neste sentido, é necessário estar ciente que nestas situações, as pessoas operam dentro de possibilidades restritas e suas estratégias nem sempre são bem sucedidas. Os atores sociais, portanto, interagem num campo de permanente “incerteza no nível interindividual” o que “não impede o aparecimento de regularidades no nível agregado” (Rosental, 1998).