Última alteração: 28-09-2023
Resumo
A presente pesquisa analisa a representação de Helena de Tróia na obra “Odisseia” de Homero e no livro “A Odisseia de Penélope” de Margaret Atwood. Helena, permanece na história tanto por sua beleza divina, quanto por suas ações controversas, sendo peça chave para o desenrolar do longo e épico conflito que será a Guerra de Tróia. Dessa forma, tem-se como intento refletir sobre o papel das mulheres na Grécia Antiga e sobre o feminino na literatura, justificando-se pela importância em explorar questões de gênero presentes na época e na atualidade. O método utilizado para realizar o estudo foi a revisão bibliográfica, através da leitura e fichamento das obras. Estima-se que os acontecimentos narrados tenham ocorrido no Período Pré-homerico, em uma Grécia que limitava e subjugava a atuação feminina. As mulheres não eram consideradas cidadãs, a elas cabia, restritivamente, o desempenho de atividades de cunho doméstico, salvo algumas atividades religiosas. Assim, o feminino era subalterno à opressão masculina, devendo sempre estar sob a tutela do parente masculino mais próximo. Outrossim, perante a política sexual grega, a mulher deveria ser fiel, pois o adultério feminino - e apenas ele - configurava-se como crime, levando à exclusão social e até a condenação à morte. Helena, cometerá adultério, mas será perdoada pelo marido e retomará seu posto de rainha. Nesse sentido, Helena e Penélope, personagem principal da obra de Atwood, são edificadas historicamente em opostos. Penélope, a casta, fiel e prudente por excelência; Helena, a bela, pérfida e imprudente imagem mortal de Afrodite. Por meio da reescrita, Atwood subverte a literatura canônica, dando às personagens subjugadas da obra original, como Penélope e as escravas, o direito de contarem a sua versão. Mulheres, que de passivas e caladas, passam a questionar seu lugar no mundo, buscando justiça. Porém, mesmo sendo uma obra de viés feminista, “A Odisseia de Penélope”, retrata uma Helena maliciosa, fútil, que se desvia do tradicionalismo, sendo, então, mal vista e por Penélope, culpabilizada. Portanto, os resultados parciais indicam que Atwood, mesmo sendo uma escritora atual e crítica a sociedade patriarcal, perpetua a rivalidade feminina em sua obra. Permanece com o estereótipo da personagem megera, que no final deve ser punida. Helena, no entanto, não será morta, nem castigada, pois ela encontra formas de assegurar sua sobrevivência em um mundo dominado pela figura masculina. Logo, a rainha espartana mostra-se como uma personagem tão astuciosa e inteligente quanto os heróis de Homero.