Última alteração: 25-10-2016
Resumo
Apenas na última década começaram a tornar-se efetivas ações afirmativas nas instituições federais de ensino que, dentre outras ações, reservam vagas à população indígena. Todavia, essa reserva não garante a tal público a permanência nos cursos frequentados e tampouco a conclusão com êxito. É esse o caso, por exemplo, da maioria dos estudantes indígenas que ingressaram no IFRS – Campus Sertão. Dos vinte e cinco estudantes indígenas ingressantes nos anos de 2013 a 2015, apenas cinco deles permaneciam matriculados na instituição até o final do ano de 2015. Tendo em conta tal cenário, esta pesquisa tem como objetivo principal identificar, por meio dos temas que se manifestam no discurso de integrantes da comunidade acadêmica do Campus, os fatores que contribuem para a evasão dos estudantes indígenas ingressantes. O referencial teórico deste estudo centra-se nas concepções de relações pós-coloniais de Bhabha (1998) e de identidades representadas no currículo de Silva (1995; 2005). Em relação às identidades culturais indígenas buscamos suporte nos estudos de Cenci e Marcon (1994). Acerca do processo histórico de acesso à educação no Brasil, o apoio foi centrado nos estudos de Romanelli (2009). O corpus de análise é constituído de entrevistas realizadas com estudantes indígenas a não indígenas e docentes do IFRS – Campus Sertão. Para análise do corpus, apoiamo-nos em uma teoria discursiva, a semiótica greimasiana, tendo como base teórica Greimas (1975; 2013; 2014), Barros (1997; 2012) e Fiorin (1997; 1998). Por meio da análise discursiva foi possível entender que os temas que se manifestam como indicativos da evasão dos estudantes indígenas estão relacionadas a problemas financeiros, baixo rendimento escolar, diferenças culturais pouco debatidas no espaço acadêmico e preconceito étnico fomentado, principalmente, pelos conflitos pela propriedade privada de terra e pela não representação da cultura indígena na instituição. Assim, os estudantes indígenas que conseguem permanecer estudando no Campus precisam aceitar situações que os colocam como antissujeitos, a fim de poder concluir seus cursos. Entendemos que os resultados desse estudo podem contribuir para a compreensão das dificuldades que se apresentam nos processos de ingresso e permanência de estudantes indígenas e, em consequência disso, para a tomada de medidas que visem à redução das evasões não apenas no IFRS – Campus Sertão, mas também nas demais instituições de ensino.