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Movimentos transnacionais e construções identitárias: uma análise literária
Última alteração: 14-12-2018
Resumo
Não pertencimento, deslocamentos e subjetividade são alguns dos elementos que permeiam a narrativa contemporânea em seu processo de (des)construção identitária, o qual vem sido estudado no século XXI por inúmeros autores. A partir dessa premissa, o presente trabalho tem como objetivo analisar como a literatura brasileira contemporânea tem representado o sentimento de não pertencimento pelo viés das personagens, tendo em vista a interconexão cada vez maior entre globalização e produção literária. Os textos da atualidade buscam, de modo geral, apresentar histórias pautadas na hibridez de povos e culturas, o que acaba por gerar a representação de uma sociedade “líquida”, que se esvai num piscar de olhos; e de cidadãos do mundo, sempre em movimento, buscando construir o seu ‘eu’ a partir dos subsídios fornecidos pelo tempo-espaço ao qual estão alocados. Por meio da abordagem qualitativa, utiliza-se como base de análise os livros O sucesso, de Adriana Lisboa e Contos de mentira, de Luisa Geisler, visto que ambas as autoras são representativas da fluidez identitária experimentada pela literatura, a qual pode ser acessada de variadas maneiras, como por exemplo pelas artes visuais e pelo memorialismo. Dentre os textos presentes no corpus da pesquisa, foram selecionados, do primeiro livro, os contos “Aquele ano em Rishikesh” e “O escritor, sua mulher e o gato”, a fim de analisar os seguintes aspectos: deslocamentos (psicológicos e geográficos), aspectos simbólicos acessados pelas personagens e papel do narrador na construção da história. Nos dois textos, pode-se notar que os movimentos servem como base para a restituição da identidade das personagens, sendo a memória e a fotografia vistas como elementos colaboradores desse processo, uma vez que as personagens vivem um limbo identitário, sem compreender quem eram ou são. Já do segundo livro, foram selecionados os contos “Apenas este réquiem para tantas memórias” e “Todos”. As narrativas dessa obra apresentam a história com um viés introspectivo, a partir do qual as personagens compartilham um sentimento alheio a todos aos seu redor, como se não fizessem parte daquele ambiente. Como resultados, observa-se que ambas as obras buscam representar como a relação do indivíduo com o tempo-espaço e os movimentos transnacionais por ele experimentados atuam como restituidores identitários, trazendo à tona, por meio dos deslocamentos experimentados pelas personagens, do memorialismo e da projeção simbólica, a problematização das noções de (não)pertencimento e estraneidade, tão presentes ‘sociedade líquida’ contemporânea.
Palavras-chave
Memória; Identidade; Transnacionalidade
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