Última alteração: 10-03-2025
Resumo
Diante da dificuldade de abordar e apresentar atividades artísticas e culturais que tem como tema questões raciais, e/ou que envolvem problemáticas das religiões de matrizes africanas, o presente trabalho tem o enfoque de elucidar como tais dificuldades são vivenciadas pelos bolsistas do NAC (Núcleo de Arte e Cultura) e GA (Galeria Aberta) - projetos de extensão direcionados para viabilizar propostas e ações artísticas e culturais tanto internas quanto externas ao campus Alvorada-, durante as mediações realizadas no campus em virtude da exposição fotográfica sobre o fotolivro “Alvorecer em Terreiros” publicado pela autora e mestra alvoradense, Tainã Rosa. O objetivo do livro e da exposição é contribuir para a educação para as relações étnico-raciais. Este trabalho tem como o foco central a análise e interpretação da aceitação dos mediados, tanto antes, como durante e após as mediações, por meio da observação de seu interesse, de como lidam muitas vezes com outras religiões retratadas nas fotografias da exposição, assim como o modo como os professores instruem e falam sobre essa temática para os seus alunos durante a visita. As mediações realizadas pelos bolsistas tiveram como público alvo as escolas da rede municipal de ensino fundamental do município de Alvorada, tendo em vista que no município há uma grande porcentagem de adeptos a religiões de matrizes africanas, assim como de casas de terreiros. Ao longo de dois meses, foram realizadas 35 visitas guiadas pela exposição. Diante disso, foi constatado que dentre os professores que participaram, houveram alguns que tiveram falas e/ou ações preconceituosas em relação ao tema em exposição, o que ocasionou até mesmo uma visita da SMED (Secretaria Municipal de Educação), para inspecionar a exposição e avaliar sua pertinência, pois foram feitas denúncias de que seriam conteúdos inapropriados para os alunos. Porém, as próprias funcionárias da SMED, ao fazerem a visita, relataram não terem identificado nenhum conteúdo inadequado, constatando que a denúncia provavelmente era motivada por preconceito racial e racismo religioso. O preconceito não ocorreu apenas entre os professores, pois nos foi dito por uma das professoras que houve pais que não autorizaram a participação dos seus filhos, por se tratar de um assunto sobre casas de terreiro. Portanto, diante disso chega-se à conclusão de que houve uma resistência de determinados participantes e demais envolvidos, tendo como causa, desde racismo religioso, até a falta de conhecimento e entendimento dos temas abordados e representados. Ainda assim, houve uma grande aceitação pela maior parte do público, desde as crianças pequenas, da educação infantil, até a maioria dos adultos, que por vezes relataram que se sentiram representados e valorizados por meio daquela exposição. Tais constatações reforçam a necessidade de ações abordando essas temáticas tanto no âmbito da educação básica quanto no ensino superior.