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Ancestralidade e racismo religioso em Ponciá Vicêncio de Conceição Evaristo: Uma leitura Afrocientista
Bianca Santos De Oliveira, Alexsander Lemos Ferreira, Alba Cristina Couto Dos Santos Salatino, Alexsander Lemos Ferreira

Última alteração: 18-12-2024

Resumo


O presente trabalho faz parte de uma pesquisa realizada no contexto do projeto Afrocientista. O romance "Ponciá Vicêncio" de Conceição Evaristo explora, de forma profunda, a herança ancestral e os efeitos do racismo na vida da protagonista e de sua comunidade. A obra traz uma reflexão sobre o impacto histórico da escravidão, principalmente no que se refere à ancestralidade e à preservação da cultura afro-brasileira, incluindo a dimensão religiosa. Ao abordar a trajetória de Ponciá, uma mulher negra que carrega o legado de seus antepassados, Evaristo tece um cenário onde o racismo estrutural se cruza com a marginalização religiosa. O livro evidencia como a desconexão com a ancestralidade pode ser um reflexo da opressão, especialmente no campo religioso, que nega a espiritualidade africana e impõe valores hegemônicos. O objetivo deste resumo é refletir sobre a representação da ancestralidade no livro e como ela se conecta ao racismo religioso. A análise visa destacar como Evaristo revela as dificuldades que Ponciá enfrenta ao tentar se reconectar com suas origens e o impacto que o apagamento cultural tem em sua vida e em sua saúde mental. A reflexão baseia-se em uma análise crítica da obra, utilizando-se da estética da recepção, com foco nos temas de ancestralidade e racismo religioso, observando como esses elementos estão entrelaçados na trajetória de Ponciá. A análise considera a relação da protagonista com sua família e o legado espiritual deixado por seus antepassados, evidenciando como esses laços são enfraquecidos pela urbanização e o preconceito social. A narrativa mostra que a desconexão de Ponciá com suas raízes e tradições ancestrais é, em parte, uma consequência do racismo estrutural e religioso que marginaliza as práticas espirituais de origem africana. A protagonista sente o peso de uma identidade fragmentada, agravada pela migração e pelo distanciamento de seu povo e de suas tradições. O racismo religioso, manifestado pela negação e estigmatização de práticas de matriz africana, é refletido na alienação espiritual que aflige Ponciá, que se sente perdida e sem direção. A leitura propõe que a reconexão com as raízes ancestrais pode ser uma forma de resistência ao racismo religioso e cultural que tenta silenciar tradições de origem africana. A jornada de Ponciá é um retrato da luta de muitos descendentes de escravos que, devido ao racismo, foram afastados de suas práticas espirituais e culturais. Através da obra podemos identificar que a reconciliação com o passado ancestral é um passo necessário para a cura emocional e espiritual dos personagens, e sugere que a memória ancestral pode oferecer força para resistir às adversidades impostas pela sociedade.


Palavras-chave


Afrocientista,Ancestralidade, Racismo religioso.

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