A pesquisa analisou como estudantes de classes populares superam desigualdades educacionais e alcançam sucesso no ensino superior, focalizando fatores socioculturais e econômicos que influenciam suas trajetórias. Dada a relativa raridade do ensino superior no Brasil — cerca de 15% da população adulta possui diploma universitário, em contraste com mais de 40% na média da OCDE — neste estudo, define-se sucesso escolar como a conclusão do ensino superior. Considerando a expansão do ensino superior no Brasil e o papel dos Institutos Federais, o estudo contextualiza as oportunidades e desafios enfrentados por esses estudantes. Fundamentada nas teorias de Pierre Bourdieu sobre capital cultural e de Bernard Lahire sobre disposições individuais, a pesquisa buscou compreender como estratégias diversas se manifestam em contextos de relativa vulnerabilidade. Adotou-se uma abordagem qualitativa, com entrevistas semiestruturadas realizadas com treze egressos do curso de Tecnologia em Processos Gerenciais do IFRS - Campus Rolante entre 2019 e 2023. A análise de conteúdo dos dados, conduzida com os softwares Sonal e Iramuteq, revelou que a expansão da rede federal ampliou o acesso ao ensino superior para esses estudantes de classes populares, mas não eliminou as barreiras relacionadas ao capital cultural e econômico. A capacidade de conciliar estudo e trabalho e as políticas institucionais de inclusão mostraram-se essenciais para mitigar essas dificuldades. Observou-se que as estratégias de superação variam entre os estudantes, refletindo a diversidade de contextos familiares e sociais. Enquanto alguns contaram com forte incentivo familiar, outros apoiaram-se em programas institucionais, bolsas de estudo e nas novas oportunidades laborais proporcionadas pelo ensino superior. A pesquisa destacou que a expansão quantitativa do ensino superior precisa ser acompanhada de políticas qualitativas de permanência que considerem as especificidades dos estudantes que formam o novo público desse nível de ensino. Conclui-se que, embora a expansão do ensino superior e da rede federal tenha sido fundamental para ampliar o acesso, é imperativo desenvolver iniciativas focadas na permanência e no sucesso acadêmico. A adoção de políticas educacionais que atendam à diversidade de trajetórias e necessidades dos estudantes é crucial para romper a reprodução das desigualdades educacionais e promover a equidade no ensino superior brasileiro.