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A relação entre memória e objetos pessoais perdidos na enchente de 2024
Última alteração: 27-02-2025
Resumo
Com as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024, muitos perderam bens materiais e objetos pessoais afetivos, intimamente ligados a memórias significativas. Esses itens são frequentemente vistos como a própria memória, levando os indivíduos a sentirem que perderam seu passado. O projeto “Resgate da memória: reconstrução artístico-afetiva dos objetos pessoais perdidos na enchente” busca recuperar essas lembranças, ajudando os afetados na reconstrução emocional, uma vez que as ações de apoio emocional são menos frequentes do que as voltadas para a recuperação material. A demanda para o projeto foi identificada por meio de reportagens jornalísticas e consulta com a Biblioteca Pública Municipal Rui Barbosa (Rolante/RS), que evidenciaram as perdas na comunidade. O objetivo central é auxiliar os participantes, atingidos pela enchente no município de Rolante/RS, a estabelecer novas conexões com seu passado. A primeira etapa consistiu em um levantamento bibliográfico sobre memória, criatividade e arteterapia, com o propósito de explorar técnicas que facilitem a discussão sobre memória, tanto entre a equipe do projeto quanto entre os atingidos pela catástrofe. Em seguida, serão realizados encontros na Biblioteca Pública, onde práticas criativas mediadas pela equipe ajudarão os indivíduos a expressar lembranças e sentimentos relacionados aos objetos perdidos. O projeto visa “reconstruir” artisticamente esses objetos, gerando novos artefatos que ativem suas memórias, demonstrando que os objetos funcionam como instrumentos de acesso à memória, não como a memória em si. A ação é justificada como recuperadora das lembranças acreditadas perdidas, promovendo o processo de rememorar, o compartilhamento de memórias e a produção de novos objetos que ativem essas recordações. Como a memória sempre parte do presente e depende das preocupações do momento, ela sofre flutuações quando articulada e expressa. Portanto, é importante discutir com os participantes os sentidos do processo de rememorar e criar um ambiente que os auxilie a explorar suas lembranças. Os objetos pessoais abordados nos encontros são simbólicos e afetivos, pois possuem funções além de suas usuais, carregando um valor patrimonial. Eles podem ser considerados âncoras memoriais, vinculados a situações ou pessoas importantes e parte da identidade dos indivíduos. Sua materialidade carrega um universo de imaterialidades, diferenciando-os de objetos comuns. Com as ações do projeto, busca-se amenizar a desorientação emocional dos indivíduos afetados pela catástrofe climática. Espera-se que, ao final, os participantes consigam ressignificar suas lembranças, reconstruindo sua identidade e história de vida, canalizando esse processo na produção de novos objetos carregados de afeto. Além disso, os estudantes envolvidos se beneficiarão do aprofundamento em temas de memória e criatividade, contribuindo para sua formação acadêmica e cidadã como promotores culturais e solidários em sua comunidade.
Palavras-chave
Catástrofe climática; Memória; Objetos pessoais
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