Desde 2018, a Mostra de Cinema Latino-Americano de Rio Grande (MCLARG) tem o objetivo de fomentar um espaço de promoção e difusão do cinema e audiovisual no extremo sul do Brasil, que aproxime e possibilite o intercâmbio de conhecimentos entre realizadores audiovisuais, cineastas e outros profissionais da área do cinema, para discutir e pensar a produção audiovisual latino-americano contemporânea, suas linguagens e narrativas. A MCLARG possui interesse no audiovisual latino-americano sob a perspectiva  decolonial, que tem como marco o manifesto “Hacia un tercer cine”, lançado em 1969, pelos cineastas argentinos Fernando Solanas e Octavio Getino -  no qual, imbuídos das ideias de Franz Fanon, clamavam pela descolonização do olhar de produtores e espectadores cinematográficos latino-americanos, e propunham um enfrentamento estético, narrativo e educativo à linguagem hollywoodiana, partindo de perspectivas nacionais e regionais - que é retomado e reconfigurado na contemporaneidade. Ainda, o evento busca visibilizar as iniciativas cinematográficas potencialmente descolonizadoras de sujeitos e territórios. Nessa perspectiva, a 5ª edição da mostra tornou-se um marco em seu histórico de realizações, pois sua programação promoveu exibições a partir das filmografias dos cineastas brasileiros mais repercutidos no mundo, sendo eles: André Novais Oliveira (Contagem/MG), que já teve dois de seus curtas-metragens exibidos no Festival de Cannes e Lincoln Péricles (Capão Redondo/SP),  que obteve destaque na "Cahiers du Cinéma", renomada revista francesa dedicada à crítica de cinema. Cabe ressaltar, que ambas produções são dotadas de sensibilidade estética e de um olhar peculiar sobre as experiências cotidianas, que em geral, a periferia é o espaço onde suas narrativas acontecem. Tal disposição, conversou diretamente com a ação do Cinema de Rua Itinerante, que o evento propôs no Bairro Getúlio Vargas, na cidade do Rio Grande, a fim de levar produções audiovisuais realizadas por Lincoln Péricles a esta comunidade descentralizada, que possui pouco ou nenhum acesso às salas de cinema. Dessa forma, a ação possibilitou o contato direto entre o público e o realizador dos filmes exibidos, os quais dialogam diretamente com narrativas não hegemônicas, que expressam a realidade de um povo trabalhador, residente em periferias.