O presente trabalho vincula-se ao projeto indissociável "Práticas de ensino, pesquisa e extensão em Geografia: vínculos da aprendizagem com os contextos multiculturais e comunitários dos alunos", o qual está sendo desenvolvido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) Campus Rio Grande, durante o ano de 2024. A abordagem tem por objetivo analisar de forma crítica as lógicas de poder, as novas territorialidades, os modos de existência e (re)existência dos segmentos populares e as desigualdades socioespaciais. Portanto, a proposta justifica-se na medida em que busca aproximar o conteúdo programático da disciplina de Geografia II aos contextos multiculturais e comunitários dos estudantes, a partir de obras literárias que analisam os diferentes modos de viver e as estruturas de poder presentes em nossa sociedade. A metodologia adotada tem base na perspectiva descolonial, com apoio nas obras “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, e “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, utilizadas em sala de aula com os alunos do terceiro ano dos cursos técnicos em Eletrotécnica, Informática para a Internet e Refrigeração e Climatização integrados ao ensino médio. A partir dessas obras, os alunos interligaram seus contextos do cotidiano com as realidades presentes na literatura. Em “Torto Arado”, os estudantes produziram poesias e obras visuais que criticam as relações territoriais, a exploração do trabalho e o racismo, os quais remetem ao sistema colonial, que é responsável por perpetuar as desigualdades socioespaciais da atualidade. Ademais, em “Quarto de Despejo”, os alunos analisaram as múltiplas vivências que constituem o espaço urbano e estabeleceram pontos de relação entre suas (re)existências e contextos familiares com a realidade de Carolina. Além disso, os bolsistas, em conjunto com a coordenadora, estão elaborando um mapa conceitual com base no livro "Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano", de Grada Kilomba. Esse mapa visa categorizar e discutir os conceitos relacionados ao racismo estrutural, institucional e cotidiano, os quais possuem raízes coloniais. Nessa perspectiva, o mapa será atualizado a partir da abordagem apresentada pelos alunos. Como resultados, destaca-se a exposição "Poesias para Desentortar Arados", realizada na II Mostra Cultural do IFRS - Campus Rio Grande e a oficina de escrita criativa com base no livro “Quarto de Despejo”, promovida durante a VIII Semana Feminista em colaboração com o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Gênero e Sexualidade (NEPGS). Por fim, a proposta apresentada faz intersecções com a esfera social, histórica e cultural, tendo a ciência geográfica como componente de mudança para interpretar o espaço em suas múltiplas facetas, com ênfase na construção de cidadãos éticos e que estejam aptos à intervenção crítica no espaço em que habitam.