Última alteração: 22-12-2023
Resumo
IntroduçãoA lei federal 11.892 de 29 de dezembro de 2008 (BRASIL, 2008) instituiu a Rede Federal de Educação Científica e Tecnológica e criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Esta rede de ensino voltada para a educação profissional e tecnológica, traz em sua essência a visão de formação integral do estudante, alicerçada nos pilares de ensino, pesquisa e extensão. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRS) Campus Porto Alegre, oferece três cursos relacionados com estudos ambientais: Técnico em Meio Ambiente; Tecnólogo em Gestão Ambiental e Licenciatura em Ciências da Natureza. Desde sua criação em 2009, mantém uma parceria bastante consolidada com a Unidade de Conservação (UC) Parque Natural Morro do Osso (PNMO), construída através de ações nestes três pilares, de forma integrada. Essa parceria permite que este espaço não formal de educação seja utilizado para o desenvolvimento de algumas disciplinas, como verdadeiros laboratórios naturais, bem como ações de pesquisa e extensão vinculadas a essas atividades de ensino, trazendo benefícios na formação de nossos estudantes e na manutenção e conservação deste importante parque urbano. O presente trabalho faz parte da pesquisa intitulada “Caminhos trilhados no contexto da EPT: memórias de práticas compartilhadas entre o IFRS-Campus Porto Alegre e o Parque Natural Morro do Osso (PNMO)”, vinculada ao Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT), dentro da linha de Organização e Memórias de Espaços Pedagógicos na Educação Profissional e Tecnológica. A referida pesquisa tem como objetivo principal investigar como se deu a trajetória histórica da parceria entre o IFRS- Campus Porto Alegre e a Unidade de Conservação PNMO, através de ações de ensino, pesquisa e extensão, visando a preservação destas memórias institucionais e destas ações. Trata-se de um estudo de cunho histórico, de natureza qualitativa e exploratória enquanto seus objetivos. Para tanto, tomaremos como ferramentas para coleta de dados a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e a história oral. O presente estudo apresenta os dados preliminares obtidos através da análise documental das ações desenvolvidas dentro de um de seus pilares: a extensão. Segundo documento publicado pela FORPROEX (2012), a extensão tem potencial de intensificar a relação entre estes pilares a partir do momento que oferece elementos “[...] para transformações no processo pedagógico [...] propiciando a socialização e a aplicação do saber acadêmico”. Este documento também traz as possibilidades advindas desta relação com a pesquisa, para a comunidade de abrangência, quando diz que, “[...] utilizando-se de metodologias específicas, compartilhando conhecimentos produzidos pela instituição, e, assim, contribuindo para a melhoria das condições de vida da sociedade.” (FORPROEX, 2012, p. 13). A fim de investigar essas ações, foi realizada uma análise documental, seguindo os preceitos de Cellard (2012), através da leitura das atividades submetidas no Sistema de Informação e Gestão de Projetos (SIGproj) do campus Porto Alegre e seus respectivos relatórios finais e, também, a busca no portal CNPq das produções acadêmicas frutos destas ações, partindo dos currículos lattes dos servidores do campus PoA que participaram dessas ações. Ao analisar os documentos contidos no SIGProj, chama a atenção a diversidade de temas primários e secundários que aparecem, além da riqueza de palavras-chaves, porém todos relacionados ao esforço de fortalecer o Uso Público (UP) desta UC, de forma ordenada e com a preocupação em minimizar os impactos gerados por esse uso. Outra informação que chama a atenção é como esses projetos estão de fato entrelaçados dentro do tripé essencial da formação integral, resultando inclusive na criação de uma disciplina no curso de Gestão Ambiental, com enfoque neste tema.Metodologia O presente trabalho utilizou como fonte de dados a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental, relacionadas às ações realizadas, fruto desta parceria, na categoria extensão. Gil (2002, p. 44) define pesquisa bibliográfica como aquela que “[...] é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente por livros e artigos científicos”. Dentro desta categoria, serão utilizados neste estudo, artigos científicos, livros, publicações periódicas e impressos diversos relacionados com o objeto desta pesquisa. A pesquisa documental, segundo Cellard (2012, p. 295) "é insubstituível em qualquer reconstituição referente ao passado [...] pois não é raro que ele represente a quase totalidade das atividades humanas em determinadas épocas". Importante salientar a diversidade e riqueza de documentos que podem ser analisados e cruzados através da pesquisa documental. Apresenta, ainda, uma série de vantagens, pois os documentos são fontes ricas e estáveis de dados, principalmente para quem deseja trabalhar com pesquisas de natureza histórica. Nesta etapa foram analisados documentos normativos, propostas de ações de extensão realizados no PNMO submetidos no SIGProj e seus respectivos relatórios finais, e uma busca das produções registradas, geradas a partir dessas atividades, através dos currículos dos participantes destas ações, servidores do Campus Porto Alegre (PoA), disponibilizados na plataforma do CNPq. As Propostas e Relatórios Finais das ações foram disponibilizados pela Diretoria de Extensão do Campus PoA. A partir dessas leituras, sistematizamos algumas informações, relativas aos desdobramentos destas ações, publicações, palavras chaves, temáticas desenvolvidas e sua conexão com os outros pilares que sustentam essa formação integral. Resultados e Discussão Foram localizadas 10 atividades submetidas nos editais de fluxo contínuo na aba extensão sendo: quatro programas, três cursos e três projetos. Também havia um projeto submetido pelo edital de Apoio a Projetos Indissociáveis. Foi observado que havia uma grande diversidade nas temáticas abordadas, não restringindo-se apenas às questões relacionadas à educação e ao meio ambiente como interpretação ambiental, educação ambiental, uso público, trilhas interpretativas e condução de visitantes. Traziam também abordagens como trabalho, geração de renda, turismo, comunicação, cultura, patrimônio cultural, histórico, natural e imaterial, entre outras, demonstrando a riqueza de abordagens possíveis de serem realizadas no local em questão, a partir desta parceria. Essa variedade de possibilidades aparece também quando analisamos as produções acadêmicas e produtos gerados, dos mais diversos, incluindo artigos, participação em congressos, livros, capítulos de livros, guias interpretativos para auxiliar na condução de visitantes, propostas de utilização de bioindicadores e geoprocessamento para monitoramento de impactos na utilização das trilhas, trilha virtual, composição musical e videoclipes. A diversidade das temáticas desenvolvidas e dos produtos gerados converge no sentido de uma ampla formação técnica e integral dos nossos estudantes e o fortalecimento do Uso Público dessa UC, sendo uma importante estratégia para conservação e manutenção de destas áreas, apontada pela Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental (ENCEA) - para áreas protegidas - documento produzido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), instituição vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, no qual o estímulo a este uso aparece como objetivo específico e ligado a gestão destes espaços: “Estimular o uso público sustentável e internalizar valores de co-responsabilidade na gestão e proteção das UC; (MMA, 2011). Segundo informações contidas nos relatórios, as atividades aconteceram por demanda do Parque, demonstrando a relevância destes estudos e ações para a conservação, a manutenção, a divulgação da importância do Parque e possibilidades de usos permitidos, auxiliando na gestão desta UC. A relação entre ensino-extensão-pesquisa, nestas ações, aparece de forma tão intrincada que ao analisar a produção acadêmica, em alguns casos, não foi possível classificá-las como uma produção relacionada apenas à extensão, ao ensino ou à pesquisa, reforçando o caráter indissociável de tais ações e demonstrando conformidade com as normativas que colocam essa interlocução como prioritária, como é colocada de forma clara no Plano de Desenvolvimento Institucional do IFRS (2018), [...] ofertar educação profissional, científica e tecnológica, inclusiva, pública, gratuita e de qualidade, promovendo a formação integral de cidadãos para enfrentar e superar desigualdades sociais, econômicas, culturais e ambientais, garantindo a Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e em consonância com potencialidades e vocações territoriais. (PDI-IFRS, 2018) O desenvolvimento desta parceria e o conjunto de atividades relacionadas a este tema, evoluiu ao ponto de ser criada uma disciplina, no atual Projeto Pedagógico do Curso (PPC) Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental (SGA) de 2018, denominada Gestão Ambiental do Espaço Turístico, tendo como objetivo geral “Promover a discussão de aspectos técnicos e científicos da gestão ambiental do turismo na perspectiva do desenvolvimento sustentável local, desenvolvendo habilidades e competências para atuar na gestão ambiental de espaços turísticos.” (IFRS, 2018b, p. 69). Para melhor compreensão do escopo desta componente curricular, trazemos um trecho da sua ementa, que relaciona estes estudos a UCs: “Gestão ambiental do turismo em Unidades de Conservação.” (idem, p.69). Considerações finais Como salientado anteriormente, este estudo é bastante preliminar e apenas um recorte de uma pesquisa ainda em desenvolvimento, havendo muito a ser desvendado sobre as características e desdobramentos que partem desta simbiose entre duas instituições públicas, com uma enorme relevância para a sociedade, sobretudo para a população de Porto Alegre e entorno. Essa parceria fortalece não apenas a formação acadêmica integral de nossos estudantes, mas também a conservação dessas áreas responsáveis pela manutenção da vida e por um ambiente mais saudável para todos. Essa análise demonstra também o potencial de interlocução que as ações de extensão podem e devem ter com o ensino e a pesquisa, no sentido de oferecer uma formação ampla, integral, contextualizada e cidadã aos nossos discentes.