Este trabalho destaca os resultados da análise dos dados nacionais consolidados no projeto Violência e Civilização no Rio Grande do Sul: uma análise do processo civilizador a partir da sociologia histórica.  A pesquisa tem como objetivo compreender como as taxas de homicídios variaram ao longo do tempo e como essas variações podem estar relacionadas a eventos históricos e à consolidação do poder estatal na região. A coleta de dados nacionais do DATASUS abrangeu o período de 1979 a 2020 e permitiu uma análise comparativa das taxas de homicídio nas últimas décadas. Os resultados revelam tendências significativas nas taxas de homicídio ao longo das décadas recentes em cidades selecionas no estado do Rio Grande do Sul. No início da série histórica, nos anos 1970 e 1980, as taxas de homicídio foram relativamente baixas na maioria das cidades analisadas, muitas vezes abaixo dos níveis considerados epidêmicos de violência pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 10 homicídios por 100 mil habitantes por ano. No entanto, a partir dos anos 2000, ocorreu um aumento acentuado nas taxas de homicídio, atingindo seu pico na década de 2010. Em algumas cidades, as taxas superaram em muito a média nacional, refletindo um período de grande instabilidade e violência. Este aumento na violência interpessoal é particularmente preocupante e desafiador, uma vez que contrasta com a tendência histórica de longo prazo de queda nas taxas de homicídio. A análise desses dados nacionais levanta questões importantes sobre as causas subjacentes desse aumento da violência no curto prazo. O estudo destaca que a sensação de insegurança presente no senso comum pode ser atribuída a esse aumento recente da violência, uma vez que a memória histórica das pessoas tende a abranger apenas seus próprios ciclos de vida. Isso é consistente com a teoria do processo civilizador de Norbert Elias e com estudos comparativos sobre a violência histórica em outras partes do mundo. Em conclusão, a análise dos dados nacionais do DATASUS indica um aumento significativo nas taxas de homicídio nas últimas décadas no estado do Rio Grande do Sul, o que desafia a tendência histórica de redução da violência, tanto no estado – conforme indicado por outra etapa da pesquisa – quanto nos dados disponíveis sobre outros países. Esses resultados destacam a importância de uma análise mais aprofundada das causas desse aumento da violência no curto prazo.