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Playlists de dark ambient: traduções sonoras perante a crise climática
Paulo Henrique Costa Albani, Marcelo Bergamin Conter

Última alteração: 22-12-2023

Resumo


Encontra-se no YouTube diversas playlists de dark ambient. Trata-se de material contendo títulos como "você é a última pessoa na Terra durante um inverno nuclear", "perdido em um espaço vazio" etc. que sugerem ao espectador situações de fabulação de futuros e presentes distópicos. Na trilha visual, imagens estáticas apresentam espaços liminares. Por vezes, utilizam-se imagens de cidades da antiga União Soviética situadas em regiões inóspitas devido ao frio extremo, ou imagens que remetem ao imaginário que vem sendo criado diante das especulações do antropoceno, do capitalismo tardio e da precarização do trabalho (CRARY, 2016). No som, peças instrumentais longas ambientam o espaço acústico, intensificando o clima de desolação prometido por texto e imagens. O presente trabalho analisa os signos do antropoceno que a sonoridade das obras apresentam através do estudo de espectrogramas. A análise dessas obras nos ajuda a formular possíveis traduções no campo do som para o pensar das crises ambientais.A metodologia se baseou na coleta das playlists e na identificação de quais tecnologias eram utilizadas para a produção sonora. É possível constatar a utilização, por parte de alguns produtores, de diversos plugins e tecnologias como Virtual Studio Technology (VST) nos programas de edição de áudio como: Reaper, FL Studio, Audacity e outros. Analisar os comentários das playlist também nos foi relevante pelo fato de que são traduções no discurso da experiência sonora vivenciada, essa última já uma tradução do objeto em questão (crises climáticas). A análise dos espectrogramas tenta entender o método de organização da edição de som, da menor parte até as nítidas repetições de um beat ou efeito sonoro em um grupo específico de repetições. Em meio ao método de composição se apresentam instrumentos extremamente modificados ou distorcidos através dos VST’s, que aparentam, para nós, tentar produzir significações ao redor de um futuro vazio, melancólico ou distópico – tudo no simples ato de modificar para desfigurar; desfigurar aquilo que antes parecia um baixo ou caixa de bateria, pois em um futuro distópico não consta a materialidade dos instrumentos hoje perceptíveis, mas perdura o vazio, ou a dúvida, assim como esses sons produzidos que não querem ser ou aparentar qualquer coisa, mas existem, causam impacto em seu caminhar lentamente. O trabalho contribui a refletir como o expressar artístico pode contribuir de alguma maneira para a conscientização dos problemas na atualidade. Também se arrisca formular um método de composição para a ambient music e como funcionam as traduções intersemióticas em volta dos signos de um não-futuro, de uma crise ambiental e política.

Palavras-chave


música ambiente; semiótica; dark ambient.

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