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“Deixem a escola e o mundo limpo meninas!”: as práticas de saúde e higiene feminina nas escolas do Rio Grande do Sul na Primeira República
Giulia Oliveira Haubert, Maria Augusta Martiarena

Última alteração: 22-12-2023

Resumo


Título: “Deixem a escola e o mundo limpo meninas!”: as práticas de saúde e higiene feminina nas escolas do Rio Grande do Sul na Primeira República


Introdução:O presente trabalho tem como tema central as práticas de saúde voltadas para a higiene e saúde feminina, realizadas no espaço escolar, no estado do Rio Grande do Sul, durante a Primeira República. Justifica-se a relevância desse estudo pois permite a compreensão de que ainda existe persistência de percepções sobre a figura feminina, notadamente marcadas por uma visão higienista. Como tais persistências decorrem de um processo histórico, bem como as práticas de saúde voltadas para o universo feminino, as quais seguem bastante semelhantes ao período da Primeira República, especialmente no que se refere às vinculações restritas às questões de maternidade. De modo geral, alguns aspectos do movimento higienista seguem em cenário na atualidade.

O período da Primeira República entende-se do momento em que se caracteriza o fim da monarquia brasileira com o retorno da família real portuguesa de volta a suas origens. Em questão de datação, podemos considerar o início em novembro de 1889, quando Marechal Manoel Deodoro da Fonseca proclama a República com apoio de grande parte do Exército.

O Higienismo surge inicialmente entre os séculos XIX e XX a partir da percepção dos médicos, sanitaristas e políticos acerca do crescente aumento de surtos de doenças, tendo sido denominado de movimento higienista a constituição de um pensamento e de práticas aplicadas que voltavam seus olhos para o práticas sociais padronizadas e voltadas para a boa saúde. Visto essa necessidade de aplicação das práticas e noções higienista, se percebe ali então um local propício para a disseminação destas, pois eram locais onde tornava-se possível intervir sobre os corpos e mentes, utilizando da escola como ferramenta de disciplinamento e constituição da própria infância aos objetivos da racionalidade higienista.Neste cenário apresentado temos a figura feminina em desenvolvimento, nosso alvo neste trabalho, que é apresentada enquanto figura responsável pelo cuidar, pois de acordo com o ideal médico e sanitarista vigente durante o período do movimento higienista, eram as mulheres enquanto mães e professoras, as responsáveis por desenvolver e aplicar as noções higienistas, e isto era pensado desde os primeiros anos da criança pertencente ao sexo feminino.

Problemática: Com base nas informações apresentadas anteriormente, no cenário brasileiro da época e das influências que cercavam a população, podemos pensar a seguinte problemática: De que formas as práticas de higiene e saúde elaboradas e implementadas durante o período higienista brasileiro ocorrido durante a Primeira República abordavam as questões voltadas para o feminino.

Pensando em como seria possível através da revisão bibliográfica e da análise documental de duas obras, analisar as formas como essas práticas eram apresentadas e aplicadas para os estudantes, mas principalmente, quais dessas práticas eram exclusivas do público estudantil feminino e como eram explicadas para as jovens meninas do cenário republicano brasileiro.  Foram escolhidos para a realização deste trabalho as metodologias de revisão bibliográfica e pesquisa documental para o desenvolvimento do mesmo.

Metodologia: De acordo com Barros (2009) temos as definições de fonte e revisão bibliográfica, sendo fonte “A fonte histórica é aquilo que coloca o historiador diretamente em contato com o seu problema. Ela é precisamente o material através do qual o historiador examina ou analisa uma sociedade humana no tempo” (p.109) e quanto ao que se entende por referência bibliográfica:

“(...)constitui o conjunto daquelas outras obras com as quais dialogamos, seja para nelas nos apoiarmos ou para nelas buscarmos contrastes. Não são obras que funcionam como material direto para o estudo do tema. São obras escritas por outros autores que refletiram sobre o mesmo tema que tomamos para estudo, ou que contém desenvolvimentos teóricos importantes para o nosso trabalho.” (p.109)

Partindo dessas definições, como metodologia desenvolvemos a seguinte estratégia, a seleção de duas obras como fonte, que são “Tratar e Educar: Discursos médicos nas primeiras décadas do século XX” volume I da autora Maria Stephanou, e “Melhor prevenir do que curar:A higiene e a saúde nas escolas públicas gaúchas (1893 - 1928) “ da autora Ana Paula Korndörfer. Que serão utilizados de modo mais aprofundado, estabelecendo conexões entre os dois como forma de investigação da problemática, bem como a utilização de revisão bibliográfica como forma de desenvolvimento da pesquisa, a fim de compreender o contexto histórico e social do período, e as práticas de higiene e saúde a serem localizadas.

Resultados e Discussões: Até o presente momento, contamos com resultados parciais, pois seguimos desenvolvendo a partir das leituras, bem como aprofundamento da leitura realizada da segunda fonte, que fora estabelecida para resolução e fundamentação da pesquisa. Nesse momento, com a leitura de uma das fontes, é possível corroborar com a hipótese inicial de que as práticas de higiene e saúde que são exclusivas as jovens são as que voltam para a premissa básica e limitante da função feminina, a reprodução, a maternidade e o cuidado com as crianças, idosos e inválidos, ou seja, a figura da cuidadora. Até a data da Mostra, acreditamos que esteja mais adiantada. Para melhor compreensão, fora desenvolvida uma tabela a respeito das leituras realizadas acerca da temática saúde e higiene feminina, contendo o título, a autoria e o ano de publicação, já podendo ser perceptível que mulheres buscam estudar sobre mulheres.


Título

Autoria

Ano da Publicação

“É melhor prevenir do que curar” A higiene e a saúde nas escolas públicas gaúchas (1893-1928)

Ana Paula Kondörfer

2016

Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes

Ministério da Saúde

2004

Visões do feminino: a medicina da mulher nos séculos XIX e XX

Ana Paula Vosne Martins

2004

Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros

Michele Perrot

1928

Educação Escolar e Higienização da Infância

Heloísa Helena Pimenta Rocha

2003

A construção do papel social da mulher na Primeira República

Aline Tosta dos Santos

2009

Tratar e Educar: Discursos médicos nas primeiras décadas do século XX

Maria Stephanou

1999


Considerações finais: Como dito anteriormente, ainda não concluímos nossas leituras previstas e consequentemente análise, mas até então, é possível corroborar com a hipótese desenvolvida, que as questões de saúde e higiene que podem ser consideradas exclusivas para o público feminino, eram voltadas inteiramente a maternidade e educação de futuros filhos, ou na possibilidade de trabalho no ramo educacional, a educação dos infantes e reprodução do estigma social que liga inevitavelmente o corpo feminino ao corpo que reproduz, gera e protege novas vidas.

Referências:

BARROS, José de Assunção. A Revisão Bibliográfica - Uma dimensão fundamental para o planejamento da pesquisa; Instrumento: R. Est. Pesq. Educ. Juiz de Fora, v. 11, n. 2, jul./dez. 2009

KONDÖRFER, Ana Paula. “É melhor prevenir do que curar” A higiene e a saúde nas escolas publicas gaúchas (1893-1928). São Leopoldo - Oikos; Editora Unisinos, 2016

STEPHANOU, Maria.Tratar e Educar: Discursos médicos nas primeiras décadas do século XX - Porto Alegre: UFRGS, 1999.

Legenda:

  1. acrescentado nesse local após retirada



Palavras-chave


Meninas; História da Saúde; História da Educação

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