Portal de Eventos do IFRS, 8º SALÃO DE PESQUISA, EXTENSÃO E ENSINO DO IFRS

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Processo seletivo do IFRS e a sua acessibilidade para candidatos surdos
Daniel Oliveira da Silva, Andréa Poletto Sonza

Última alteração: 22-12-2023

Resumo


Introdução

A educação há tempo busca ampliar o nível de instrução por meio do ensino médio e superior, dando aos surdos uma melhor qualidade de vida, facilitando o acesso aos estudos, pensando não só na educação em si, mas também no mundo do trabalho, auxiliando no currículo de experiência e de formação. A realização desta pesquisa tem como objetivo ampliar as possibilidades de acessibilidade e escolarização de estudantes surdos, melhorando assim seu cotidiano como estudante, cidadão e trabalhador.

É importante destacar que o censo do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) apresentou que, no Brasil, cerca de 5% (mais 10 milhões) da população brasileira, são surdas. Também demonstrou a baixa porcentagem de pessoas com deficiências auditivas na educação. Somente 7% possuem ensino superior completo, 15% possuem ensino médio (IBGE, 2010). Essas baixas porcentagens causam, de acordo com a Agência Brasil (2019), a falta de acolhimento e inclusão, além de limitarem o acesso dos surdos às oportunidades básicas como a educação e dificultarem o acesso ao mundo de trabalho.

O Instituto Federal do Rio Grande do Sul - IFRS, possui setenta e quatro estudantes surdos e com deficiência auditiva, do nível de Médio e Superior. É perceptível que a porcentagem do IBGE no ensino médio e superior foi baixando, sendo necessário identificar quais são as causas e as principais barreiras. Provavelmente, o que tenha causado dificuldade ao acesso de candidatos surdos ao nível médio e superior seja principalmente a falta de acessibilidade em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Talvez pelo fato de as provas serem realizadas em português e a mesma ser a segunda língua do surdo em modalidade escrita, isso pode ter criado barreiras, e, por isso, a necessidade de pesquisar para descobrir quais os motivos. É importante destacar que a Libras é a primeira língua (língua materna) para a comunidade surda, conforme a Lei nº 10.436 (BRASIL, 2002).

Esta pesquisa se justifica pelo fato de buscar melhorias, ampliação e aperfeiçoamento da acessibilidade em Libras em todos os Processos Seletivos (PS) dos cursos do IFRS, auxiliando esses candidatos a ingressar na instituição.

Observando os últimos sete anos dos PS do IFRS, foi notório um número baixo de candidatos surdos inscritos. Assim, investigaremos o motivo dessa baixa procura, buscando solucionar esse problema para os próximos PS. Não somente com o objetivo de “pesquisador”, mas, com intuito de trazer visibilidade e protagonismo aos estudantes surdos. Essa relação, entre pesquisador e estudantes surdos, facilitará a investigação, e a solução do problema que esta pesquisa pretende responder: Como melhorar a acessibilidade em Libras dos PS do IFRS?

Nosso estudo tem como objetivo geral investigar quais as estratégias têm sido adotadas para a promoção da acessibilidade no PS do IFRS, incluindo a análise das políticas institucionais e mapeamento de demandas apontadas por candidatos/as surdos/as, visando a produção de subsídios teóricos e metodológicos para a ampliação e/ou aprimoramento de tais práticas inclusivas no contexto da EPT.

Como base do referencial teórico, de acordo com a Lei nº 10.436 (BRASIL, 2002) e o Decreto nº 5.626 (BRASIL, 2005), é garantido o direito linguístico para a comunidade surda e maior visibilidade para a Libras nos diferentes espaços; visto que a Libras acontece na modalidade viso-gestual e não se pode comparar com o português, pois a mesma conta com estrutura e regras próprias. Por isso se faz necessária a inclusão da Libras como disciplina curricular obrigatória para garantir o direito à educação das pessoas surdas nos diferentes níveis de ensino (desde a educação infantil até o ensino superior), incluindo a Libras como forma de comunicação, informações, nos processos de ensino e PS acessíveis, respeitando as diferenças linguísticas dos sujeitos surdos.

Metodologia

O presente é uma pesquisa com abordagem qualitativa, de natureza aplicada. Quanto aos objetivos é uma pesquisa exploratória. No que se refere aos procedimentos de coleta de dados é uma pesquisa de survey. Os autores Fonseca (2002), Minayo (2014), Silveira e Córdova (2009), e Gil (2007) embasam a estrutura metodológica desta pesquisa.

O lócus da pesquisa é o IFRS, nos campi de Osório, Restinga, Feliz e Ibirubá. A coleta de dados foi realizada de modo online no Google Meet, por meio de entrevista, com estudantes surdos e não-ingressantes surdos. As entrevistas foram gravadas para, posteriormente, o pesquisador poder observar e analisar os dados, primeiramente em Libras depois língua portuguesa, com tradução dos intérpretes de Libras. Os dados foram organizados, analisados e interpretados de forma qualitativa.

A proposta do produto educacional (PE) será baseada nos resultados dos dados coletados e analisados. O formato do PE possivelmente será um vídeo em Libras com o formato de mídias educacionais, explicando para surdos como funciona o PS do IFRS. Depois será disponibilizado aos candidatos surdos ingressantes e não-ingressantes para que façam a avaliação do Produto.

Resultados e discussão

A entrevista, contendo 7 perguntas, foi aplicada de modo online, investigando os ingressantes surdos e não-ingressantes surdos, do IFRS. A partir da análise das respostas dos entrevistados foi possível identificar os principais problemas do PS do IFRS, no que se refere ao ingresso de estudantes surdos.

Ao analisar e estudar as respostas dos entrevistados, foi possível identificar:

- que falta informação e comunicação sobre PS para pessoas surdas;

- que a maioria delas não sabia que o PS era acessível em Libras; alguns referiram que não tem acessibilidade e, outros ainda, sugerem adicionar a imagem/símbolo “acessível em Libras” nos editais dos PS. Foi identificado, entretanto, que no site dos últimos seis anos do PS, não havia o referido símbolo. Isso nos faz inferir que possivelmente tenha faltado o símbolo acessível em Libras nos cartazes e artes do último PS. O ponto principal seria ter as artes com o símbolo da acessibilidade em Libras e divulgar para as pessoas verem e acessarem, no link, o edital, cronograma, inscrição e demais documentos.

Essa figura 1 do símbolo foi criada em 2012 pelo Núcleo de Comunicação e Acessibilidade do Centro de Comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. O objetivo do ícone é ser utilizado nos locais como eventos, palestras, tipos de mídias, sites, e outros, para identificar que possui acessibilidade em Libras. Esse símbolo auxilia as pessoas surdas a acessarem os materiais em Libras por meio do QR Code.

Diante do exposto, percebe-se que uma melhoria simples no PS, por exemplo, é a inserção do símbolo “Acessível em Libras” e, ao seu lado, um QR Code para acessar o vídeo em Língua de Sinais, nas artes do PS de todos os documentos de divulgação do mesmo. É importante que as informações estejam acessíveis em Libras nos demais materiais informativos / de divulgação do PS. Desta forma as pessoas surdas ficarão confortáveis ao entenderem melhor as informações a serem disponibilizadas na sua primeira língua e/ou língua materna.

 

Considerações finais

Apresentar as perspectivas da pesquisa, tais como os resultados esperados para tentar resolver e propor melhorias aos próximos PS, com acessibilidade em Libras para pessoas surdas. O produto educacional pode auxiliar na melhoria dos PS acessíveis para pessoas surdas e também aprimorar a forma de compartilhar, disseminar e ampliar conhecimentos do IFRS em outras instituições, conscientizando sobre os direitos das pessoas surdas e o uso da língua de sinais, que é a sua primeira língua.

 

 

Referências

AGÊNCIA BRASIL. País tem 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva.

Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-10/brasil-tem-107-milhoes-de-deficientes-auditivos-diz-estudo. Acesso em: 28 jun. 2022.

 

BRASIL. Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 28 jun. 2022.

 

BRASIL. Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 28 jun. 2022.


FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. Disponível em: https://blogdageografia.com/wp-content/uploads/2021/01/apostila_-_metodologia_da_pesquisa1.pdf. Acesso em: 10 set. 2022.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo IBGE. Disponível em: https://censos.ibge.gov.br/inicio.html. Acesso em: 28 jun. 2022.

MINAYO, Maria, Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14. Ed. – São Paulo-SP: Hucitec, 2014.

 

SILVEIRA, Denise T. CÓRDOVA, Fernanda P.: Org. Métodos de Pesquisa. UFRGS Editora, 2009. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/213838. Acesso em: 10 set. 2022.

 

UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais. Símbolo Acessível em Libras. Disponível em: https://www.ufmg.br/marca/libras/. Acesso em: 28 mar. 2023.


Palavras-chave


Acessibilidade; Libras; Processo Seletivo IFRS.

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