Portal de Eventos do IFRS, 8º SALÃO DE PESQUISA, EXTENSÃO E ENSINO DO IFRS

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Tem representatividade de autoria LGBTQIAP+ na literatura das aulas de língua portuguesa e literatura? Uma visão das/os discentes do quarto ano do ensino médio do IFRS – Campus Osório
Julia Ferri Pinto, Elisa Daminelli

Última alteração: 22-12-2023

Resumo


O presente trabalho está vinculado à pós-graduação em Educação Básica e Profissional do IFRS - Campus Osório e tem como objetivo discutir sobre a representatividade de autoria LGBTQIAP+ na literatura das aulas de língua portuguesa e literatura do IFRS - Campus Osório, por meio da concepção das pessoas discentes do quarto ano. Além de trazer as suas vivências enquanto pessoas leitoras ao longo do ensino médio, os/as participantes da pesquisa também poderão contribuir trazendo experiências que tiveram ao longo do ensino fundamental, construindo uma perspectiva sobre a literatura que tiveram contato ao longo de todo o ensino básico.

Parte-se aqui da perspectiva de que a literatura possibilita refletir sobre a representação de pensamentos, de uma cultura, de um período, proporcionando discutir elementos extra-textuais, sem desvinculá-los aos aspectos ficcionais e estéticos da produção literária. Como afirma Cosson (2020a), “A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim sem renúncia da minha própria identidade.”(p.17), ainda, é “no exercício da literatura, podemos ser outros, podemos viver com os outros, podemos romper os limites do tempo e do espaço de nossa experiência e, ainda, sermos nós mesmos” (COSSON, 2020a, p. 17).

Ademais, como aponta Macedo (2011), “a literatura incide sobre algo que nos constitui, a diversidade humana, suas diferentes formas de ser, contribuindo assim para nos enxergarmos na diversidade, em nossas diferentes formas de humanidade” (p. 47). Logo, ao trabalharmos em sala de aula com uma literatura que não valorize apenas o cânone literário, damos espaço para uma educação literária que estabelece conexões entre literatura e sociedade, não levando em consideração apenas os elementos que estão dentro do sistema econômico, político, social e cultural - reflexos de escolhas ideológicas - que dialogam com um projeto de sociedade (DALVI, 2011); projeto esse que ao não valorizar a diversidade dos marcadores sociais presentes em nossa sociedade. Para tanto, vale ressaltar que ao trabalhar apenas com o cânone literário (o qual possui um recorte de gênero, raça e classe social), deixamos, enquanto docentes, de trabalhar com autorias de diferentes marcadores sociais, os quais não possuem espaço nessa seleção literária. Ao fazermos isso, podemos construir em nossa pessoa estudante o imaginário de que a literatura é produzida só por aquelas pessoas pertencentes ao cânone, bem como as/os protagonistas das narrativas só podem ser aquelas/es com os marcadores presentes nessa literatura.

Contudo, é necessário que a pessoa docente desenvolva um trabalho também com a literatura não pertencente ao cânone, uma vez que elas possibilitam o debate acerca não apenas de elementos literários ainda não reconhecidos como de “boa qualidade”, como também possibilita a abordagem, por exemplo, de temas como gênero e sexualidade na literatura, a construção dessas representatividades dentro do universo literário. Ademais, “Marcado pela diversidade e pelas demandas de respeito e inclusão, o professor é tanto o indivíduo que domina o conhecimento e as estratégias de ensino de uma disciplina específica como quem atua na qualidade de adulto de referência para as questões que dizem respeito aos valores que norteiam a vida no espaço público” (SEFFNER; PICCHETTI, 2016, p.66).

A partir dessas reflexões, foi desenhado o seguinte objetivo principal desta pesquisa que é analisar se pessoas estudantes do quarto ano do IFRS – Campus Osório tiveram contato com literatura de autoria LGBTQIAP+ ao longo da educação básica e qual a perspectiva delas em relação à representatividade desse marcador na literatura utilizada nas aulas de língua portuguesa e literatura. Para tal finalidade, foram desenvolvidos os seguintes objetivos específicos: (i) analisar se os PPCs dos cursos de ensino médio integrado do IFRS – Campus Osório abordam questões referentes ao ensino de literatura e com qual paradigma de ensino de literatura está alinhado; (ii) traçar um perfil das pessoas participantes da pesquisa; (iii) organizar um grupo focal com as pessoas participantes da pesquisa sobre a representatividade (ou não) LGBTQIAP+ na literatura que tiveram acesso no ensino básico, especialmente no ensino médio. As escolhas de quem atua como docente no ensino de literatura refletem o que Cosson (2020) aponta como paradigmas; partindo dessa concepção, espera-se analisar qual o/os paradigma(s) de ensino de literatura os documentos refletem e se dialogam com a visão que as pessoas estudantes possuem sobre a literatura.

Os PPCs configuram-se em um documento próprio da Instituição, os quais estão fundamentados nas bases legais e princípios norteadores da LDB (Lei 9394/96), PCN, PCN+, em leis, decretos, pareceres, referenciais curriculares que orientam a Educação Profissional e a Educação Básica, e que são construídos pelas pessoas docentes da Instituição. Para fazer a investigação dos documentos, foi realizada a leitura do PPC de cada curso com o objetivo de observar se havia alguma diferença entre as ementas da disciplina de língua portuguesa e literatura. Como não havia discrepâncias, foi produzida uma tabela única para descrever as informações referentes ao ensino de literatura, contando com os seguintes elementos: ementa; objetivos (geral e específicos); pontos integradores; bibliografia básica e complementar. Além disso, investigou-se a presença de diálogos com os núcleos de ações afirmativas do campus e foi verificada a ausência de um diálogo com o NEPGS (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade).

A partir da organização e leitura desses dados, pode-se averiguar que o ensino de literatura, tal qual está apresentado nos PPCs, dialoga com o paradigma histórico-nacional, que tem como objetivo de ensino trabalhar o cânone literário nacional a partir de uma perspectiva histórica, em que o espaço escolar é utilizado para confirmar a identidade nacional, dando à escola o papel de legitimar o cânone.

Além do grupo focal, as pessoas participantes irão preencher um questionário - antes do encaminhamento para a discussão - , o qual tem como objetivo fazer um mapeamento de seus perfis, com o intuito de compreender as suas colocações no grupo focal, uma vez que o seu ponto de vista sobre a temática discutida permeia não apenas os conhecimentos que constroem no ambiente escolar, como também a sua construção enquanto sujeito. A realização do grupo focal com as pessoas estudantes, que acontecerá em setembro, permitirá visualizar, a partir da visão das pessoas participantes, como as práticas de ensino de literatura estão sendo desenvolvidas em sala de aula - através da visão delas - , se dialogam e se prendem ao ensino baseado no histórico-nacional ou é uma prática que se baseia em outros paradigmas de ensino de literatura, de forma que se proporcione um espaço para a leitura e discussão de produções literárias que não fazem parte do cânone literário.

Espera-se ao final desses levantamentos, trançar os dados de modo a descrever como está construído o ensino de literatura no currículo da Instituição analisada e como ela está sendo compreendida por aqueles que são o seu público alvo. Além de trazer contribuições e reflexões acerca do ensino de literatura e os possíveis diálogos entre as obras literárias e a temática de gênero e sexualidade.


Palavras-chave: ensino de literatura; literatura LGBTQIAP+; representatividade de autoria LGBTQIAP+.


COSSON, Rildo. Letramento Literário. São Paulo (SP): Contexto, 2020a.

COSSON, Rildo. Paradigmas do ensino da literatura. São Paulo (SP): Contexto, 2020b.

DALVI, Maria Amélia. Educação, literatura e resistência. In: MACEDO, Maria do Socorro Alencar Nunes (org.). A função da literatura na escola: resistência, mediação e formação leitora. São Paulo: Parábola, 2011.

MACEDO, Maria do Socorro Alencar Nunes. Literatura mediação literária e formação docente. In: MACEDO, Maria do Socorro Alencar Nunes (org.). A função da literatura na escola: resistência, mediação e formação leitora. São Paulo: Parábola, 2011.

SEFFNER, F.; PICCHETTI, Y. de P. (2016). A quem tudo quer saber, nada se lhe diz: uma educação sem gênero e sem sexualidade é desejável?. Reflexão E Ação, v. 24(1), 61-81. Disponível em: <https://doi.org/10.17058/rea.v24i1.6986>. Acesso em: 08 ago. 2023.



Palavras-chave


ensino de literatura; literatura LGBTQIAP+; representatividade de autoria LGBTQIAP+.

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